Por Reese Ewing
GUARUJÁ, Brasil (Reuters) - Os recentes ganhos do real ante o dólar, com os mercados antecipando o impeachment da presidente Dilma Rousseff, podem induzir os produtores de café do Brasil a reconstruir os estoques, que estão em mínimas recordes, o que levaria também o país a exportar menos, disseram analistas e operadores.
Os estoques de café do Brasil caíram para mínimas históricas após dois anos de seca reduzindo a produção. As exportações recordes no último ano também ajudaram, quando a crise política do país enfraqueceu o real e tornou as vendas negociadas em dólar mais atraentes.
Sem estoques em volumes suficientes para lidar com problemas na oferta, quebras de safra ou gargalos logísticos podem fazer com que os preços das commoditities, como o café, sofram oscilações violentas nos mercados futuros.
A Comexim, uma comercializadora de café de médio porte com sede em Santos, disse que os estoques privados alcançarão a mínima histórica de 200 mil sacas em 30 de junho, quando o ano safra termina.
O Brasil exporta e consome cerca de 4 milhões de sacas de café todo mês.
"O café brasileiro pode ficar mais caro se o real subir muito, o que forçará os compradores a buscar outras origens", disse o operador da Comexim Mauricio di Cunto, nos bastidores de uma conferência sobre café que durou dois dias no Guarujá.
Di Cunto disse que a Comexim espera que os estoques se recuperem para 2 milhões de sacas de 60 kg até o fim de junho em 2017, com a ajuda da enorme safra que está em seu período final de maturação no cinturão de café do Brasil.
Em 2 de maio, analistas da consultoria Safras & Mercado estimaram que a safra deste ano será de 56,4 milhões de sacas, um pouco abaixo do recorde histórico de 2012/13, de 57,1 milhões de sacas, e deve contribuir para a recuperação dos estoques.
O Brasil exportou um recorde de 36 milhões de sacas de café nos últimos 12 meses, em grande parte devido ao colapso do real.
Mas o real ganhou cerca de 17 por cento ante o dólar desde janeiro, guiado pelas expectativas dos investidores para um governo potencialmente menos intervencionista e mais favorável ao mercado, se Dilma for retirada do cargo.
"Essa safra 2016/2017 vai ser usada para repor estoques, vai forçar o Brasil exportar menos", disse Gil Barabach, da Safras.
"E vai ter uma acomodação do dólar, isso deve segurar as exportações", ele disse, acrescentando que a saca de café já alcançou os 500 reais no início de 2016 e desde então recuou no mercado interno. O café arábica de referência está sendo cotado agora em cerca de 450 reais por saca.
(Com reportagem adicional de Roberto Samora, em São Paulo)