SÃO PAULO (Reuters) - A Nuseed, do grupo australiano de tecnologias agrícolas e de sementes Nufarm, adquiriu ativos comerciais e de melhoramento de cana-energia da brasileira GranBio, em acordo que inclui uma parceria em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
O negócio, cujo valor não foi divulgado, prevê também que GranBio e a Nuseed possam acelerar o desenvolvimento para adoção, em larga escala, da cana-energia no Brasil, além de expandir comercialmente o produto para outros mercados mundiais.
"Temos uma presença global... E pretendemos levar a cana-energia para outros países em desenvolvimento e também mercados já estabelecidos (para cana), como EUA, Austrália e diferentes partes da Ásia", afirmou Brent Zacharias, executivo do Nuseed Group, em teleconferência com a imprensa.
A parceria mira o desenvolvimento de variedade de cana mais produtiva, que deverá ser matéria-prima para futuras biorrefinarias produtoras de combustíveis avançados de aviação (SAF, na sigla em inglês) e do etanol de segunda geração (2G).
Criada por meio de melhoramento genético, a cana-energia é uma variedade que pode ser cultivada em solos degradados, trazendo benefícios a áreas hoje subutilizadas, além de gerar maiores volumes de etanol e bioeletricidade por hectare.
Segundo a GranBio, o acordo não inclui ativos industriais, como a unidade produtora de etanol em São Miguel dos Campos (AL), mas apenas ativos biológicos.
A GranBio continuará investindo no desenvolvimento de cana-energia por meio da Nuseed e será a licenciadora exclusiva da cana-energia como matéria-prima para aplicações "2G", bioquímicos, SAF e materiais renováveis em todo o mundo.
"É um principio de parceria em que a Nuseed vai fazer da cana-energia uma matéria-prima ainda mais competitiva, mas com alcance global, e esperamos que com saltos de desempenho ainda maiores", disse o CEO e fundador da GranBio, Bernardo Gradin, em teleconferência.
Ele destacou a intenção de ambas se posicionarem como empresas de impacto na transição energética.
O executivo avaliou ainda que o atual estresse nos mercados de combustíveis fósseis, com efeito sobre o etanol, apresenta uma "oportunidade" para a expansão da cana-energia.
"Em período de dificuldades financeiras... a produtividade de se ter uma cana que não precisa ser renovada a cada quatro ou cinco anos terá um papel importante. E diante do estresse climático, a cana-energia também se apresenta como uma melhor solução".
PLANTA DE SAF
A GranBio começou a plantar cana-energia utilizando a tecnologia da Nuseed para suprir, no futuro, sua planta de etanol 2G em Alagoas, que hoje utiliza resíduos da cana como biomassa.
Além disso, a empresa também demonstrou recentemente sua tecnologia de SAF em um projeto piloto e agora pretende escalar a tecnologia "em três anos", disse Gradin.
"Esperamos ter nossa primeira planta de SAF em escala comercial entre o fim de 2027 e começo de 2028", afirmou o executivo, apontando que "há boas chances" de que a unidade seja no Estados Unidos.
(Por Letícia Fucuchima)