Por Barani Krishnan
Investing.com - O ouro sofreu um novo golpe dos rendimentos do Tesouro dos EUA na terça-feira, em meio a falas incessantes de que o Federal Reserve será pressionado a elevar as taxas de juros antes do esperado a fim de refrear uma inflação galopante.
O contrato mais ativo dos futuros de ouro dos EUA para dezembro fechou em queda de US$ 14,50, ou 0,8%, a US$ 1.737,50 por onça na Comex de Nova Iork. O metal atingiu uma mínima de US$ 1.727,60 durante o pregão, o valor mais baixo em sete semanas.
"O aumento da curva de rendimento do Tesouro está levando a um aumento do dólar e reduzindo a demanda por ouro", afirmou Ed Moya, analista da plataforma de negociação online OANDA.
"O que está esfregando sal na ferida do ouro é que ele não está atraindo fluxos de porto seguro com a aceleração da aversão ao risco, com o S&P 500 tendo seu pior resultado desde maio, a Nasdaq seu pior desempenho desde março, e enquanto o Dow fica negativo no trimestre".
O rendimento da nota de 10 anos do Tesouro dos EUA era de 1,532% às 15h50, aumentando 2% em pouco menos de uma semana em função da retomada das expectativas de inflação.
O Índice do dólar, que faz face às seis principais moedas lideradas pelo euro, tinha alta de 0,4% a 93,75.
"Se os rendimentos globais dos títulos continuarem aumentando, o ouro parece vulnerável a um teste ao nível dos US$ 1.700", Moya acrescentou.
Na sua coletiva de imprensa após a reunião de setembro do Fed na semana passada, o presidente da instituição, Jerome Powell, indicou meados de 2022 como uma meta adequada para o encerramento das compras mensais de US$ 120 milhões em títulos do banco central. O chamado plano “dot-plot” do Fed, o famoso gráfico de pontos da instituição, também projeta que as taxas de juros, represadas em um nível próximo de zero desde o início da pandemia de Covid-19, aumentem em algum momento do ano que vem, ele disse.
Desde então, os dirigentes do Fed deram declarações contraditórias sobre o cronograma tanto para o tapering quanto para o aumento das taxas. Powell já admitiu que a inflação registava uma tendência acima da meta anual de 2% da Fed, mas afirmou que ela era transitória e diminuirá com o tempo. Ele reiterou essa afirmação diante de um comitê bancário do Senado na terça-feira, embora tenha admitido que questões da cadeia de fornecimento resultantes da pandemia de Covid-19 precisam ser resolvidas antes que a inflação possa ser atenuada.
A questão de quando o Fed deve reduzir seu estímulo e aumentar as taxas de juros tem sido amplamente debatida nos últimos meses, já que a recuperação econômica entrou em conflito com o recrudescimento da variante delta do coronavírus.
O programa de estímulo do Fed e outras acomodações monetárias foram responsabilizados por agravarem as pressões dos preços nos Estados Unidos. O próprio banco central gastou cerca de US$ 2,2 trilhões para apoiar a economia dos EUA com o seu programa de estímulo desde o início do surto de Covid-19.
Além dos gastos do banco central, o auxílio do governo federal para a pandemia, que começou durante o governo Trump, alcançou pelo menos US$ 4,5 trilhões até agora. E o governo Biden está pedindo ao Congresso que aprove mais quase US$ 4 trilhões para seu plano "Build Back Better”, ou “Reconstruir Melhor"
Depois de uma retração de 3,5% em 2020, devido ao fechamento das empresas em função da Covid-19, a economia dos EUA se expandiu de forma robusta neste ano, crescendo 6,5% no segundo trimestre, em linha com as previsões do Fed.
Contudo, os problemas do Fed são a esmagadora inflação e um mercado de trabalho com desempenho fraco.
O indicador preferido do Fed para a inflação - o índice de Despesas de Consumo Pessoal, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia - subiu 3,6% no ano até julho, seu valor mais elevado desde 1991. O índice PCE incluindo energia e alimentos aumentou 4,2% no ano.
A meta do próprio Fed para a inflação é de 2% ao ano.