Por Jake Spring
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil tomará medidas se preocupações sobre um aumento no desmatamento se confirmarem, disse nesta quarta-feira a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em momento em que o país enfrenta pressão sobre questões ambientais devido aos termos de um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul.
O acordo, fechado na semana passada, inclui como condição que os dois lados devem implementar efetivamente o Acordo de Paris sobre mudança climática, assim como outros compromissos para limitar o desmatamento, segundo esboço divulgado pela União Europeia.
Mas dados preliminares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o desmatamento na parte brasileira da floresta Amazônica cresceu mais de 88% em junho na comparação com mesmo mês do ano anterior, no segundo mês consecutivo de aumento do desmate no governo do presidente Jair Bolsonaro.
A ministra disse que as exigências ambientais no acordo entre UE e Mercosul estão alinhadas com as leis brasileiras e seus compromissos internacionais. Ela também disse que o agronegócio está bastante ciente de que o Brasil deve seguir o Acordo de Paris.
Ela alertou que é preciso aguardar para ver se os dados preliminares de desmatamento se confirmam, mas insistiu que ela e a indústria agrícola compartilham das mesmas preocupações ambientais.
"Eu, como ministra da Agricultura, tenho preocupação, sim. Desenvolvimento e meio ambiente são dois segmentos que podem e precisam caminhar juntos, um depende do outro", afirmou ela a jornalistas, em uma coletiva de imprensa sobre o acordo comercial.
"Se houver preocupação, o Brasil vai agir, sim. Se não houver preocupação, nós vamos esclarecer os dados para todos, para maior transparência."
O presidente Jair Bolsonaro tem atacado o que define como uma "indústria" de multas ambientais, defendido a exploração de terras indígenas e outras áreas protegidas da Amazônia e nomeado pessoas que negam o aquecimento global para posições chave em seu governo.
O acordo UE-Mercosul, que ainda precisa ser ratificado pelos países envolvidos, deve aumentar as exportações e importações do Brasil em cerca de 1 trilhão de reais nos próximos 15 anos, segundo o Ministério da Economia.
O pacto deverá impulsionar o comércio de produtos agrícolas do Brasil, uma potência do setor, ao reduzir tarifas para uma série de produtos, afirmou a ministra.
Autoridades europeias já começaram a levantar preocupações sobre a entrada em seus países de produtos agrícolas com origem em nações com regras menos severas de proteção ambiental.
Antes do acordo ser obtido, o presidente francês Emmanuel Macron alertou que seu país não iria assiná-lo se o Brasil deixasse o Acordo de Paris. Depois, ele disse que o pacto atendeu às demandas francesas.
Mas ministros de Agricultura e Relações Exteriores da França disseram na terça-feira que ainda é preciso ver se as exigências do país foram atendidas.
Bolsonaro encontrou-se com Macron durante a reunião do G-20 na semana passada, quando reiterou ao francês que o Brasil não pretende deixar o Acordo de Paris.