Por Barani Krishnan
Investing.com - Não seria a Opep se não houvesse drama. Ainda assim, o que se encena agora no palco dessa coligação expandida de 23 países produtores de petróleo, autodenominado Opep+, é drama demais - mesmo para a Opep.
Em jogo, estão os delicados laços entre dois dos maiores aliados árabes: a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.
Há também o risco de o petróleo atingir US$ 100 por barril se um aumento da produção não for acordado pelos 13 membros originais da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), liderada pelos sauditas, e seus 10 aliados dirigidos pela Rússia.
"A Opep provavelmente nunca esteve tão convencida de seu poder enquanto cartel quanto agora, pelo menos não desde 2008", afirmou John Kilduff, sócio fundador da Again Capital, empresa de hedge em energia de Nova York, em referência à época em que o petróleo disparou para US$ 147 por barril antes da derrocada para perto dos US$ 25 na crise financeira que se seguiu.
"Pois bem, a história nos ensina que a humanidade nunca aprende com a história quando se fala de ganância, então não é surpreendente que a Opep esteja fazendo isso", acrescentou Kilduff.
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A ganância aqui é dupla
Aparentemente, os sauditas querem um preço do petróleo ainda mais alto que o atual, mesmo que apenas um pouco, enquanto os Emirados Árabes Unidos querem bombear mais que o permitido pela hegemonia saudita-russa da Opep+. Em última análise, ambos procuram a mesma coisa: mais receitas para o seu petróleo, apesar de o barril já ter atingido em média os US$ 75 - valor mais alto em quase três anos.
Segundo o Financial Times, os sauditas querem um preço de petróleo ainda mais alto para incentivar investimentos a longo prazo na indústria.
"O Reino não quer ver uma escassez de verdade que possa desencadear um aumento enorme dos preços, por acreditar que isso aceleraria a transição para energias renováveis numa altura em que ainda está fortemente dependente das receitas petrolíferas", escrevem Anjali Raval e David Sheppard, autores especialistas no setor energético do FT, citando analistas.
Esqueça a escassez genuína de petróleo. A taxa em que seguem os sauditas e o resto dos seus irmãos na Opep, fazendo os preços subirem diariamente com a escassez artificial que criaram através de cortes na produção - para não falar do esforço em massa para estrangular a produção do Irã, outro membro fundador da Opep - será, ela própria, um incentivo para a aceleração das energias renováveis.
Há algo a mais no horizonte: A pressão do governo Biden, que finalmente despertou e seu sono sobre a inflação oriunda do petróleo.
Na coletiva de imprensa de sexta-feira, pela primeira vez desde que assumiu o governo em janeiro, a Secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, expressou preocupações sobre o impacto do aumento dos preços do petróleo nos consumidores americanos, embora não tenha dito se algo seria feito a esse respeito. O governo é igualmente responsável em função de suas políticas verdes contra combustíveis fósseis, que sufocaram o ímpeto dos produtores americanos em injetar mais petróleo a estes preços como forma de compensar pelo menos em parte os cortes da Opep+.
Segundo boatos e a mídia de energia, a Arábia Saudita e a Rússia propuseram um aumento da produção cauteloso de 400.000 barris por mês entre agosto e dezembro, o que outros países têm apoiado amplamente.
Pode-se chamar este esforço da Opep+ de "enrolação cautelosa". Os sauditas e os russos - na verdade, todos os produtores da aliança - sabem que qualquer escalada inferior a 500.000 barris por dia até agosto poderia levar a um novo aumento de preços, na direção dos US$ 100 por barril. A imprensa vem publicando esse fato por dias a fio.
Antes desta semana, o Ministro de Energia saudita, Abdulaziz bin Salman, tentou parecer consciente sobre o impacto que um aumento contínuo dos preços do petróleo - que já subiu mais de 50% este ano - poderia ter nos países consumidores, dizendo: "Temos um papel na domesticação e contenção da inflação, ao garantir que este mercado não saia do controle".
A determinação do ministro saudita em manter cortes na produção - a Opep+ continua bloqueando cerca de 6 milhões de barris da sua capacidade diária de chegarem ao mercado - é evidente no mantra que ele recita sempre que é perguntado se está satisfeito com a demanda por petróleo: "Acreditar nisso quando eu vir".
Apesar dos estoques globais do petróleo regressarem às tendências sazonais de cinco anos; apesar do mercado praticamente drenar todo o excesso de oferta da fartura desencadeada pela Covid; apesar dos produtores americanos bombearem 2 milhões de barris a menos por dia que antes da pandemia; e apesar de um barril ser negociado hoje a um preço três vezes maior que há 15 meses, o ministro saudita afirma que ainda não está convencido da demanda por petróleo, citando receios o aumento de infecções causadas pela variante delta da Covid-19.
É verdade que o aumento de 25% do mercado de petróleo somente nos últimos três meses é surpreendente, se comparado a qualquer retomada da pandemia em qualquer parte do mundo.
Contar com Abdulaziz para ajudar a reduzir significativamente os preços do petróleo, enquanto o seu verdadeiro trabalho é fazer o oposto, é como mandar uma raposa tomar conta do galinheiro. Como Kilduff sugere, a ação saudita equivale agora a pouco mais do que a ganância.
Os Emirados Árabes Unidos, contudo, têm outras preocupações. Eles se opõem à extensão de qualquer acordo sem reavaliar sua capacidade máxima de produção, atingida no auge da crise do coronavírus (na verdade, ninguém na Opep+ pensava em produção ideal na época; todos estavam simplesmente gratos pelos barris que conseguiam produzir).
Os dirigentes dos Emirados Árabes Unidos acreditam em privado que perderam receitas de produção com os cortes proporcionalmente maiores que os da Arábia Saudita, expondo as crescentes tensões entre dois aliados tradicionais do Golfo.
A divisão Emirados Árabes Unidos-Arábia Saudita também levantou questões sobre a relação entre os dois, que foi por muito tempo uma das mais poderosas alianças na Opep. Os analistas observaram que os laços entre os dois foram, sem dúvida, enfraquecidos pela entrada da Rússia na aliança estendida da Opep+ na segunda metade da década de 2010.
É claro que a hegemonia saudita-russa da Opep+ controla tudo dentro desta aliança, e é surpreendente que os Emirados Árabes Unidos só percebam isso agora.
Durante as reuniões da Opep+, o ministro de energia saudita criticou frequentemente os membros da aliança por produzirem acima das suas metas estipuladas, sentado ao lado do seu homólogo dos Emirados Árabes Unidos, Suhail Al Mazrouei, que ele sabe ser um dos culpados.
Bill Farren-Price, um observador e analista da Opep de longa data na Enverus, disse que parte da pressão no relacionamento dos Emirados Árabes Unidos com a Arábia Saudita provavelmente vai além de opiniões divergentes sobre o acordo da Opep+.
"Embora permaneçam intimamente ligados, não me parece que necessariamente compartilhem mais os mesmos interesses estratégicos e podem não querer mais estar tão estreitamente ligados", Farren-Price afirmou no artigo do FT escrito por Raval e Sheppard.
"Acho que há menos interesse em estar associado a um grupo que controla a produção de petróleo num momento em que fortalecem os laços no Ocidente, e ao enxergarem sua política de petróleo de longo prazo mais sobre maximizar o volume antes de qualquer pico na demanda", acrescentou.
No Investing.com, nossa lógica é simples: em algum momento, os consumidores vão perder sua paciência com os crescentes preços do petróleo.
Nosso argumento é que, em circunstâncias extremas, a humanidade encontra soluções extremas.
A pandemia foi um exemplo clássico, com a demanda mundial do petróleo basicamente interrompida, colocando a Opep de joelhos. Foi, sim, uma emergência sanitária; mas o mesmo raciocínio pode se aplicar a uma crise financeira. Daqui a um ano, se 50% da população ativa retornar ao teletrabalho devido aos altos preços do petróleo, o que acontecerá com o mercado?
Há uma razão para a máxima: o consumidor é rei.
Resumo dos preços do petróleo
O petróleo bruto WTI, comercializado em Nova York, disparou para uma máximade US$ 75,62 por barril, um pico inédito desde 2018, antes de fechar o pregão de sexta-feira a US$ 75,16, queda de 7 centavos no dia. O WTI bateu uma negociação final pré-fim de semana de US$ 75,04. Na semana, teve aumento de 1,5%.
O Brent, negociado em Londres e referência global para o petróleo, encerrou a US$ 76,17 dólares, um aumento de 0,4% no dia e estabilidade na semana. O Brent alcançou uma negociação final pré-fim de semana de US$ 76,06.
Calendário dos mercados de energia
Segunda-feira, 5 de julho
Feriado da Independência dos EUA
Terça-feira, 6 de julho
Dados do estoque de Cushing da avaliadora Genscape
Quarta-feira, 7 de julho
Relatório semanal de reservas de petróleo do American Petroleum Institute.
Quinta-feira, 8 de julho
Relatório semanal da EIA sobre estoques de petróleo bruto
Relatório semanal da EIA sobre estoques de gasolina
Relatório semanal da EIA sobre estoques de destilados
Relatório semanal da EIA sobre estoque de gás natural
Sexta-feira, 9 de julho
Pesquisa semanal da Baker Hughes sobre plataformas de petróleo dos EUA
Mercado de ouro e resumo dos preços
O preço do contrato futuro do ouro para entrega em um mês na Comex de Nova York fechou o pregão de sexta-feira a US$ 1.783,30, alta de US$ 6,50 ou 0,4%. Na semana, subiu 0,3%. A negociação final pré-fim de semana foi de US$ 1.787,55 dólares.
No início da semana, a referência de contratos de futuros do ouro sofreu a sua pior perda mensal em quase cinco anos, caindo quase US$ 135 ou 7% em junho - a maior desde a queda de 7,2% em novembro de 2016.
A derrubada veio na esteira de especulações incessantes sobre a redução de estímulos e o aumento de taxas de juros por parte do banco central americano, golpes sentidos pelos investidores otimistas do mercado do metal dourado - embora nada disso deva ocorrer no curto prazo.
Para o segundo trimestre, a perda do ouro na Comex foi menor, embora ainda substancial - cerca de US$ 45, ou quase 3%.
A convicção tornou-se uma mercadoria rara no mercado do ouro, uma vez que o investidor médio de longo prazo tentou manter-se fiel ao metal em meio às agruras dos últimos seis meses.
Desde janeiro, o ouro está numa rota difícil que na verdade começou em agosto do ano passado - quando saiu de máximas históricos acima dos US$ 2.000 e se lateralizou por alguns meses, antes de tropeçar para uma queda sistêmica a partir de novembro, quando os primeiros avanços na eficácia da vacina contra a COVID-19 foram anunciados. Em determinado momento, o ouro atingiu um nível mínimo em cerca de 11 meses, a menos de US$ 1.674.
Depois de parecer quebrar esse feitiço com uma retomada para US$ 1.905 em maio, o ouro assistiu uma nova rodada de vendas curtas que o arrastou de volta ao patamar dos US$ 1.800, antes de falas sobre aperto monetário por parte do Federal Reserve o terem derrubado para uma mínima em dois meses de cerca de US$ 1.750.
Para fins de registro, o Fed indicou que espera dois aumentos antes de 2023 que levarão as taxas de juros para 0,6%, a partir do patamar de superbaixa da pandemia, de zero a 0,25%. Ele não estabeleceu um calendário para a redução ou congelamento total dos US$ 120 bilhões em obrigações e outros ativos que vem comprando desde março de 2020, para apoiar a economia durante a crise da Covid.
Isso, no entanto, não impediu os dirigentes mais antigos do Federal Open Market Committee (FOMC), comitê de destaque do banco central americano, de tecerem comentários sobre a probabilidade de uma redução de recompras ou escalada gradual das taxas nos seus discursos públicos. E eles têm falado com frequência desde a reunião do FOMC de junho.
Normalmente, cada discurso agressivo sobre uma recompra ou subida de taxas acaba derrubando o ouro mais que um cauteloso o levantaria.
Além disso, a posição do ouro como cobertura contra a inflação espantosamente se perdeu durante a transição. O indicador de inflação preferido do Fed, o índice de despesas de consumo pessoal, cresceu a uma máxima plurianual de 3,4% nos 12 meses até maio. Enquanto isso, o índice de preços ao consumidor, mais popular, saltou 5% no ano até maio, sua maior alta desde 2008.
A maioria dos preços das commodities, do petróleo aos grãos, como a soja, o milho e o trigo, estão em máximas de vários anos.
Mas o ouro continua caindo, enquanto o índice do dólar e os rendimentos dos títulos de 10 anos dos EUA sobem periodicamente, muitas vezes em conversas e pesquisas ocas de Wall Street sobre recuo de recompras e aumento de taxas, apesar dos triliões de dólares em gastos do governo desde o início da pandemia.
Isenção de responsabilidade: Barani Krishnan não possui posição nas commodities e valores mobiliários sobre as quais escreve.