Brasil fora do SWIFT? O risco que assusta, mas o impacto real já está entre nós

Publicado 04.08.2025, 08:00

Nas últimas semanas, surgiram rumores sobre a possibilidade de o Brasil ser retirado do sistema SWIFT, a rede global que conecta mais de 11 mil instituições financeiras no mundo. O motivo? A escalada de tensões diplomáticas com os Estados Unidos após sanções aplicadas a autoridades brasileiras, como no caso recente da Lei Magnitsky envolvendo o ministro Alexandre de Moraes.

Mas antes que o alarde tome conta do mercado, é preciso separar o sensacionalismo da realidade.

SWIFT não é dos EUA, e o Brasil não está prestes a sair

O sistema SWIFT é sediado na Bélgica e regulado pela União Europeia. Ou seja, os Estados Unidos não têm poder unilateral para remover o Brasil dessa rede, como já afirmaram diversos especialistas.

Países que foram banidos do SWIFT, como Irã e Rússia, estavam envolvidos em conflitos armados ou ameaças nucleares, com sanções globais articuladas entre EUA, UE e ONU. O Brasil está longe desse cenário.

Mas o problema é real… e silencioso

Se a saída do SWIFT é improvável, o isolamento financeiro gradual já começou.

Os EUA aplicaram sanções diretas a autoridades brasileiras. Isso gera um efeito colateral perigoso: o medo das sanções secundárias. Bancos brasileiros, por precaução, estão evitando transações com pessoas ou entidades ligadas ao governo federal, ao judiciário e a instituições investigadas.

Na prática, isso significa:

  • Restrições informais em transferências internacionais;

  • Cautela no uso de dólar em operações com risco jurídico;

  • Revisões internas de compliance para evitar exposição.

O risco não é técnico, é reputacional e operacional.

Precedentes internacionais: o que aconteceu com Rússia e Irã

  • Rússia (2022): após a invasão da Ucrânia, a União Europeia (e não os EUA) determinou a remoção parcial de bancos russos do SWIFT.

Resultado: isolamento bancário imediato, fuga de capitais, colapso da confiança internacional.

  • Irã (2012 e 2018): foi excluído duas vezes do SWIFT por decisões da UE com apoio dos EUA, devido ao programa nuclear.

Resultado: o país enfrentou escassez de produtos importados e grandes perdas cambiais.

O que é comum nesses casos:

  • Motivações graves (guerra, ameaça nuclear).

  • Ações coordenadas internacionalmente, com forte apoio europeu.

  • Envolvem ameaças à segurança global, o que não se aplica ao Brasil.

O que os bancos brasileiros já estão fazendo

De acordo com reportagens recentes (julho/2025), bancos brasileiros estão revisando suas políticas internas, especialmente os grandes (como Itaú (BVMF:ITUB4), Bradesco (BVMF:BBDC4) e BTG (BVMF:BPAC11)), por medo de violar sanções americanas relacionadas ao caso Moraes/Magnitsky.

Um executivo de um banco brasileiro disse à Reuters:

"Estamos sendo mais cautelosos com transações de clientes ligados ao governo federal e ao judiciário."

Isso mostra que o medo de retaliações já está mudando o comportamento das instituições financeiras brasileiras, mesmo sem uma medida oficial dos EUA.

Como isso pode afetar empresas e investidores?

Mesmo sem sanções amplas ao país, esse clima de incerteza pode:

  • Reduzir a confiança de investidores estrangeiros no ambiente regulatório brasileiro;

  • Dificultar operações de crédito e investimentos em dólar;

  • Prejudicar empresas que dependem de fornecedores ou clientes internacionais.

Ou seja, estamos diante de um isolamento financeiro silencioso, sem um anúncio oficial, mas com efeitos práticos concretos.

O Brasil não está sendo expulso do SWIFT. Mas a simples ameaça de sanções secundárias dos EUA já está moldando o comportamento dos nossos bancos, o que afeta o acesso a capitais, a previsibilidade institucional e a imagem do país no cenário internacional.

Neste momento, o que o mercado mais precisa é de segurança jurídica, estabilidade diplomática e diálogo institucional.

O custo do silêncio pode ser alto demais.

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