Investing.com – Com os mercados de petróleo do mundo fechados nesta segunda-feira e os preços do insumo bruto tendo apresentado ganhos de cerca de 50% em 2016, os investidores se prepararam para assistir aos acontecimentos em torno do fundamental acordo, firmado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e diversos produtores da commodity que não fazem parte do órgão, de redução da produção.
O petróleo futuro fechou com perdas modestas no último pregão de 2016, nesta sexta-feira, mas registrou a maior valorização anual desde 2009 em virtude do acordo para combater o excesso de oferta no mundo e dar força aos preços.
Os membros da Opep concordaram em reduzir a produção em 1,2 milhão de barris por dia, de forma conjunta, a partir deste domingo, 1º de janeiro, no primeiro acordo firmado pelo órgão desde 2008.
Seguiu-se ao pacto um acordo entre 11 produtores não membros da Opep, liderado pelo maior produtor fora do grupo, a Rússia, visando a reduzir a oferta em 558.000 barris por dia.
O acordo, o primeiro desta natureza em 15 anos, tem como finalidade a redução da oferta mundial em cerca de 2%.
De mais de US$ 110 o barril em 2014, os preços do petróleo despencaram até a mínima de 13 anos, atingida em fevereiro, de cerca de US$ 26 o barril, antes de se recuperarem nos meses seguintes à medida que os países produtores se movimentaram para limitar a produção.
O petróleo Brent encerrou 2016 com uma valorização anual de 52%, enquanto que o petróleo bruto futuro americano embolsou ganhos de quase 45%.
Os mercados se mostraram céticos quanto ao cumprimento do corte
Contudo, alguns investidores ainda adotam cautela quanto à expectativa geral do mercado com a eficácia dos cortes planejados.
Vale (SA:VALE5) a pena ressaltar que Moscou prometeu uma redução de 300.000 barris por dia (bpd) dos 558.000 incluídos no acordo que envolve produtores não membros da Opep.
No entanto, a Rússia também indicou que planeja chegar a um corte de 200.000 barris até março, com a redução dos 100.000 demais sendo aplicada em junho.
O mercado ainda tem receios em virtude da aceleração da produção na Líbia e na Nigéria, países que têm permissão para tal, conforme o acordo da Opep.
Muitos analistas questionaram quanto do acordo será efetivamente executado.
Tanto o JP Morgan quanto o Goldman Sachs firmaram uma projeção de 80% e 84% de conformidade, respectivamente.
"Agora tememos que o descumprimento do acordo seja inevitável e enfraqueça o comprometimento dos países com o pacto em algum momento do segundo semestre", avisaram profissionais do JP Morgan.
O Goldman destacou que sua projeção de menos de 100% se deu "porque o comprometimento dos produtores do Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Catar, Bahrein e Omã) com os cortes de produção é historicamente fraco".
No curto prazo, os investidores terão que aguardar o possível primeiro marco do cumprimento, quando o comitê de monitoramento se reunir em Viena.
Embora o secretário-geral da Opep, Mohammed Barkindo, tenha indicado a data de 13 de janeiro, o ministro do petróleo do Kuwait, Issam Al-Marzouq, confirmou que a primeira reunião do ano acontecerá mais para a frente.
"Tudo está sendo preparado para que a reunião da comissão especial presidida pelo Kuwait, com o objetivo de monitorar a aderência ao acordo de produção aconteça em 21 e 22 de janeiro, em Viena", afirmou o ministro na última quarta-feira, de acordo com um relatório da Agência de Notícias Estatal do Kuwait.
"Devemos poder afirmar com mais precisão em algumas semanas, perto do momento da posse de Donald Trump, quanto está sendo reduzido e quanto é 'balela'", destacou o fundador da Boslego Risk Services, Robert Boslego, em uma análise.
"Nem todos os cortes anunciados devem ter início este mês", complementou, também alertando que se a Rússia não acompanhar o plano, será improvável que haja muitos cortes voluntários de outros não membros da Opep.
"Temos até 21 de janeiro para acreditar nos resultados esperados, e só depois podemos trazer isso para a realidade", disse Kevin Book, diretor-executivo da ClearView Energy Partners, ao canal CNBC, afirmando que desrespeitar o acordo seria "inevitável".
"Historicamente, a Opep não atinge suas metas", acrescentou.
Os produtores de xisto americanos devem aproveitar valorização do petróleo
Enquanto isso, as atenções ainda se voltam para os indícios de aumento na atividade das perfuradoras dos EUA. A Baker Hughes, provedora de serviços para a área do petróleo, declarou na última sexta que o número de plataformas de petróleo ativas nos EUA durante a última semana subiu para 525, apresentando aumento nominal de 2, a nona elevação semanal seguida, atingindo nível inédito em quase um ano.
Alguns analistas reiteraram que o recente rali nos preços pode "sair pela culatra", já que incentiva os produtores de xisto dos EUA a aumentar a produção, gerando novas preocupações com um excesso de oferta.
"À medida que os preços sobem, a produção de xisto deve rapidamente aumentar, limitando efetivamente os preços do petróleo a pouco acima dos US$ 60", ponderaram analistas da Standard & Poor's.
Ellen R. Wald, doutora e especialista no setor energético mundial, acredita que os preços do petróleo se estabilizarão em 2017, com a Opep "novamente dizendo as coisas certas e trabalhando em prol da cooperação para limitar a produção e aumentar os preços."
"Os cortes de produção da Opep podem nunca ser totalmente implementados e provavelmente não durarão muito tempo. Além disso, outros obstáculos ainda impedem conversas com diversos produtores não membros do órgão, mas, agora, o movimento segue claramente a linha dos limites de produção combinados", explicou.