Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Fecombustíveis, federação que representa postos de combustíveis no Brasil, já teme uma "quebradeira geral" diante de uma queda média já registrada de 50% na demanda em seus pontos de venda em cidades com mais de 300 mil habitantes, em meio ao combate do novo coronavírus, afirmou à Reuters o presidente da entidade Paulo Miranda.
A redução nas vendas ocorre como consequência de medidas adotadas por autoridades e sociedade de restrição de deslocamento para combater a expansão do novo coronavírus pelo Brasil.
Diante do cenário, a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) já enviou ao governo federal ofícios requerendo alguns auxílios, dentre eles a suspensão da cobrança de impostos federais dos postos até que o mercado volte ao normal.
A ideia, segundo Miranda, seria que os impostos eventualmente suspensos --dentre eles Pis/Cofins-- fossem pagos posteriormente com juros.
"Nós estamos informando isso para o governo: se não houver uma ajuda por parte do governo, pelo menos na questão dos impostos, com certeza terá uma quebradeira geral", disse Miranda.
"Muitos postos não vão conseguir... Se o cara não conseguir pagar as contas dele, de repente ele consegue isso um, dois ou três meses, depois ele não aguenta mais e fecha."
A Fecombustíveis, que representa cerca de 42 mil postos revendedores de combustíveis que atuam em todo o território nacional, pediu ainda ao governo medidas que reduzam os encargos trabalhistas e garantias de que a distribuição de combustíveis não seja impedida por questões logísticas em rodovias do país.
Miranda defendeu ainda suspensão de contratos de trabalho com compensações pagas aos funcionários. Segundo ele, a mão de obra nos postos --onde é obrigatória a contratação de frentistas-- representa cerca de 40% do custo operacional.
Alguns pedidos feitos pelo setor de combustíveis foram atendidos recentemente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que flexibilizou o horário obrigatório de abertura dos postos e também reduziu a necessidade de estoques de distribuidoras.
PREÇOS DE COMBUSTÍVEIS
Miranda também comentou uma cobrança feita nesta quarta-feira pela Petrobras (SA:PETR4), que afirmou esperar que cortes praticados por ela nos preços da gasolina vendida aos distribuidores, que já acumulam queda de 40% neste ano, cheguem aos consumidores finais, nos postos de combustíveis.
A declaração da Petrobras, enviada à imprensa, foi feita em momento em que os postos praticamente não refletiram as reduções aplicadas pela estatal, maior fornecedora de combustível às distribuidoras e postos.
Segundo pesquisa da agência reguladora ANP, até a última sexta-feira a gasolina havia tido queda de somente 1,6% no acumulado do ano, na média Brasil.
O presidente da Fecombustíveis afirmou desconhecer a metodologia da pesquisa da ANP e afirmou que a concorrência é grande no varejo e que as quedas praticadas em refinarias demoram, em média, de 10 a 15 dias para chegar na bomba, dependendo de diversos fatores, como consumo de estoques.
"Eu só posso baixar o preço que a Petrobras baixou hoje na hora que eu vender esse estoque que eu paguei mais caro, ou então tomo prejuízo", afirmou.
Miranda frisou ainda que, na região onde ele tem uma rede de postos, em Belo Horizonte, houve uma queda de 10% dos preços apenas em março.
Ele ponderou que, com uma queda de 50% nas vendas, pode ser que algum elo da cadeia opte por reter um pouco de margem, já que o custo operacional será o mesmo, com uma receita bem inferior.