SÃO PAULO (Reuters) - As indústrias brasileiras processadoras de soja podem ter margens negativas no último trimestre de 2018, considerando a alta dos preços da matéria-prima e os valores previstos para os derivados (farelo e o óleo), avaliou nesta sexta-feira o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Segundo o centro da Esalq/USP, a avaliação considera os preços FOB de soja, do farelo e do óleo negociados nesta semana com vencimento em outubro, novembro e dezembro.
"Esse cenário se deve às significativas altas nos preços do grão e à consecutiva dificuldade de indústrias em repassar essa elevação aos derivados", afirmou o Cepea, ponderando que muitas fábricas têm a matéria-prima estocada, adquirida anteriormente a preços menores, o que evitaria perdas.
Com o dólar próximo de máximas históricas frente ao real, o que compensa uma queda nos preços internacionais da soja em Chicago, que estão perto de mínimas de dez anos, a cotação da oleaginosa no Brasil está nos maiores níveis desde meados de 2016, contando com uma forte demanda da China, que tem evitado o produto norte-americano devido a uma tarifa de 25 por cento.
Neste momento de entressafra no Brasil, em que produtores estão iniciando o plantio da temporada 2018/19, o preço referencial de Paranaguá está em 96,17 reais por saca, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa, após ter atingido máxima em mais de dois anos na sexta-feira da semana passada, a 96,95 reais. Em junho de 2016, o produto foi cotado acima de 97 reais a saca.
Conforme o Cepea, a situação da indústria processadora de soja no quarto trimestre só não será mais desafiadora porque exportações dos derivados, especialmente farelo, estão aquecidas.
A margem das processadoras, com a alta da matéria-prima, aperta-se apesar de preços relativamente elevados do farelo de soja, que por sua vez tem afetado a indústria produtora de carnes.
"No caso do farelo de soja, pecuaristas, principais compradores desse derivado, trabalham com margem de lucro reduzida desde o início do ano, especialmente avicultores e suinocultores", disse o Cepea.
Essa situação, acrescentou o centro de estudos, leva parte dos agentes do setor pecuário a ter interesse em importar o farelo de soja da Argentina.
Na quinta-feira, o "Crush Margin" calculado pelo Cepea no Porto de Paranaguá ficou negativo em 5,16 dólares/tonelada para o contrato outubro/18, em -2,48 dólar/tonelada para novembro/18 e -9,27 dólar/tonelada para dezembro/18.
Por outro lado, as exportações de farelo e óleo de soja seguem elevadas, impedindo queda mais acentuada na margem de lucro das indústrias brasileiras.
(Por Roberto Samora)