Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A safra recorde de soja do Brasil, colhida em sua maioria no primeiro trimestre e com crescimento de mais de 10 por cento ante a temporada anterior, foi o principal fator para o aumento do PIB da agropecuária de janeiro a março, devendo também contribuir de forma importante para esse setor da economia fechar o ano com avanço, ainda que modesto.
A agropecuária cresceu 4 por cento em relação a igual período do ano anterior, destacando-se entre outros setores que tiveram recuo, como a indústria (-3 por cento) e serviços (-1,2 por cento), informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.
O segmento do campo cresceu apesar de o milho, com safra significativa no primeiro trimestre, ter apresentado variação negativa na produção de 3,1 por cento, segundo o IBGE.
Em relação ao quarto trimestre, o PIB da agropecuária cresceu 4,7 por cento, enquanto indústria recuou 0,3 por cento e o setor de serviços caiu 0,7 por cento.
"Foi o que salvou a lavoura, a indústria já vinha minguando, vai continuar essa deterioração e já está atingindo o setor de serviços", disse o diretor de Pesquisa Econômica da GO Associados, Fábio Silveira, ao ser consultado pela Reuters.
Silveira projeta um crescimento de até 2 por cento para a agropecuária em 2015, após avanço de 0,4 por cento em 2014, muito em função do salto da cultura de soja, com colheita de mais de 95 milhões de toneladas, o principal produto do agronegócio nacional, que responde por quase metade da safra de grãos e oleaginosas do país.
Segundo o especialista da GO Associados, o desempenho da agropecuária está sendo limitado pela fraqueza da atividade em outras culturas, atingidas por preços mais baixos, como o milho.
"O que sustenta esse PIB magro de 2 por cento (previsto para o ano) é a lavoura de soja, mais a pecuária. Por quê? Porque é um setor exportador, e a exportação é sustentáculo importante para avicultura e carne bovina... e o câmbio está ajudando (na exportação)...", declarou.
Ele frisou que o agricultor terá queda na renda este ano e a relação de troca com insumos será desfavorável, num ano com crédito mais caro. "As condições de negociações estão mais áridas, não está fácil para ninguém, inclusive para o agronegócio", disse.
SEGUNDA SAFRA
Carlos Cogo, de consultoria agroeconômica que leva o seu nome, destacou também a importância da soja e das vendas externas do agronegócio para o PIB do segmento.
Mas ele citou ainda o impulso do milho, cuja segunda safra, com colheita recém-iniciada no país, deve apresentar altas produtividades.
A chamada "safrinha" pode ser recorde, garantindo uma produção histórica para o cereal do Brasil, apesar de as cotações estarem mais baixas.
"Tem o peso do grão, soja e milho, e o preço do café também subiu. Outros setores também seguiram com suas exportações", disse Cogo.
Já a economista do CM Capital Markets Jessica Strasburg ressaltou que, no PIB do primeiro trimestre, "o que salvou foi a agropecuária".
"E a indústria também contribuiu para a queda ser menos pior que o esperado, mas os serviços caíram bastante. Sinceramente fiquei surpresa com queda de só 0,3 por cento da indústria", disse ela, lembrando que o setor automobilístico "está indo de mal a pior e tem muito peso na indústria e no comércio".
O segmento agropecuário, ainda que tenha tido um desempenho positivo, tem um peso pequeno na composição do PIB total, uma vez que o IBGE considera basicamente a atividade primária em sua metodologia, ou dentro da porteira, sem levar em conta indústrias.
(Com reportagem adicional de Camila Moreira e Gustavo Bonato)