Por José Roberto Gomes
RONDONÓPOLIS, Mato Grosso (Reuters) - Produtores de sementes de soja no sudeste de Mato Grosso, líder nacional no cultivo da oleaginosa, são contrários à eventual ampliação no período de plantio e avaliam que isso traria produtividades mais baixas, ao facilitar a disseminação de doenças nas lavouras.
A posição vai na direção oposta da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), que reivindica o plantio da oleaginosa até fevereiro, permitindo aos produtores semear pequenos lotes para se fazer sementes.
O debate se dá em meio a condições climáticas irregulares nesta safra do Brasil, adversidade esta que pode reduzir a oferta de determinadas variedades de sementes. Com um plantio mais alongado, haveria chance de recuperar alguma perda.
Uma normativa do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), em vigor desde 2015, regulamenta o calendário de plantio de soja no Estado até 31 de dezembro, com colheita até 5 de maio, e mantendo-se o vazio sanitário de junho a setembro.
A medida, que visa principalmente combater a propagação do devastador fungo da ferrugem asiática na lavoura, evita jogar a colheita para dentro do período em que não é permitida nenhuma planta de soja viva.
Para sementeiras no sudeste de Mato Grosso, uma das principais áreas para a produção de sementes no Estado, ampliar o prazo de semeadura traria problemas.
"Do jeito que está, está bom. Tem o risco da ferrugem, e a gente sabe que nem todos os produtores fazem um trato adequado", comentou Rômulo Lemos, gerente de produção do grupo Girassol Agrícola, um dos mais tradicionais produtores de sementes de soja em Mato Grosso, tendo sua base na região da Serra da Petrovina.
Lemos explicou que, ao se permitir maior tempo com plantas de soja nos campos, aumenta-se o risco de disseminação do fungo da ferrugem, a pior doença da cultura. Até a véspera, havia o registro de 245 focos do problema Brasil afora, dos quais 27 em Mato Grosso, conforme dados do Consórcio Antiferrugem.
Na atual safra 2018/19, o Girassol Agrícola deve produzir cerca de 800 mil sacas de sementes de soja.
Para Claudinei José Costa, gerente de produção de sementes do grupo Bom Jesus, que tem atuação em Mato Grosso, Bahia e Piauí e deve produzir 1 milhão de sacas de sementes nesta temporada, outro risco com um eventual maior período de plantio seria para a própria sobrevivência do setor.
"É um tiro no pé. Acaba com o ramo de sementes", afirmou ele durante visita de técnicos do Rally da Safra, expedição organizada pela Agroconsult, que na véspera passou na unidade da empresa em Pedra Preta, no sudeste de Mato Grosso.
A avaliação no setor como um todo é de que poderia haver "concorrência" com os produtores, já que estes passariam a produzir as próprias sementes.
"Não tem lógica técnica e científica... Haveria pressão por estar fora da janela e se produziria menos", disse Fabiano Ferreira, gestor de produção de sementes do grupo Petrovina, também em Pedra Preta e que produzirá cerca de 1 milhão de sacas de sementes neste ciclo.
OUTRO LADO
Em sua carta técnica em que expõe argumentos a favor do plantio até fevereiro, a Aprosoja-MT diz que a "oportunidade de se fazer semente é inclusive estratégica, isto para se produzir aqueles materiais que não se conseguiu colher com qualidade de semente durante a safra, via de regra por problemas de chuva na colheita".
"Sabemos que, sob o ponto de vista de menor necessidade de uso dos fungicidas, a época ideal para a produção de sementes comerciais e de uso próprio seria as resultantes dos campos semeados na safra normal, mas esta não tem sido a melhor opção pelos produtores, ainda há muita dificuldade técnica, econômica e estrutural para conservar as sementes até a próxima safra", acrescenta a entidade.
"A produção de sementes próprias, mesmo que em pequenas quantidades, serve como balizador de preços e, certamente, como fator de melhoria da qualidade de alguns materiais, além de se evitar os problemas dos atrasos da entrega de sementes por algumas sementeiras", conclui a entidade no documento.
Procurada para comentar o assunto e dar declarações adicionais, a Aprosoja-MT não respondeu de imediato.
(Por José Roberto Gomes)