Por Natalia Zinets
KIEV (Reuters) - Técnicos ucranianos na usina nuclear de Zaporizhzhia, controlada atualmente pela Rússia, são atingidos por bombardeios vindos de canhões russos e enfrentam enorme pressão, mas vão ficar para garantir que não haja um desastre como em Chornobyl, afirmou um deles.
O técnico, que pediu que sua identidade não fosse divulgada por medo de represálias russas, ofereceu um raro vislumbre das precárias condições de trabalho em Zaporizhzhia, enquanto Moscou e Kiev trocam acusações sobre a autoria dos bombardeios.
A maior usina nuclear da Europa foi capturada pela Rússia em março e os bombardeios foram amplamente condenados, levando a pedidos de uma missão urgente da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) à instalação no sul da Ucrânia.
O técnico disse à Reuters que muitos trabalhadores mandaram suas famílias para longe da cidade de Enerhodar, onde a usina está localizada, mas ficaram sozinhos para garantir a operação segura da estação.
"Os funcionários entendem que precisam tirar suas famílias, mas eles mesmos voltam. Eles têm que trabalhar por causa da possibilidade de uma grande catástrofe como a de Chornobyl em 1986, e isso seria muito pior", disse o técnico.
Tropas russas fortemente armadas estão por toda parte no local, o que é em si altamente estressante, e veículos blindados têm suas armas apontadas para a entrada da usina quando os trabalhadores entram, acrescentou.
As forças russas às vezes não permitem que os trabalhadores voltem imediatamente para casa após seus turnos, disse ele.
"Eles encontram uma razão para não deixar sair -- bombardeios, ou inventam outra coisa", disse ele. "Eles estão constantemente andando pelas instalações com armas. É muito difícil quando você entra na fábrica e vê essas pessoas e tem que estar lá. É muito desgastante, mental e psicologicamente."
O Ministério da Defesa russo não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
A Energoatom, o principal órgão estatal ucraniano que normalmente supervisiona a fábrica, disse acreditar que os trabalhadores da instalação estão sendo pressionados e também estão em perigo.
A estatal encaminhou à Reuters os comentários feitos por seu chefe, Petro Kotin, em 2 de agosto, nos quais ele diz que a equipe está trabalhando sob "intensa pressão psicológica e física", e reclama da presença militar russa no local.
A usina nuclear tinha 11 mil funcionários antes da invasão russa em 24 de fevereiro. As autoridades ucranianas não divulgaram o número atual de trabalhadores, alegando razões de segurança.
Um dos temores constantes é o de que as linhas de eletricidade da usina possam ser cortadas, porque as bombas que resfriam o núcleo do reator e as piscinas de combustível usado precisam de eletricidade para funcionar, disse o técnico.
Existe uma central elétrica de reserva que funciona a diesel, mas o técnico disse não saber quanto de combustível restava no local.
Como vários bombardeios atingiram o complexo da usina nuclear, a Ucrânia e a Rússia disseram que querem que os inspetores da AIEA visitem as instalações e o chefe da agência, Rafael Grossi, disse estar pronto para liderar uma missão.
A ONU diz que pode facilitar essa viagem, mas que Ucrânia e Rússia precisam concordar com isso.
O técnico expressou ceticismo de que uma viagem às instalações por uma missão da AIEA ajudaria muito.
"Somente com a desocupação total da cidade, da usina nuclear, da usina termelétrica, das regiões de Zaporizhzhia e Kherson e outras, só assim as pessoas estarão realmente seguras", disse ele.
Não houve resposta imediata da AIEA a um pedido de comentário da Reuters.