Por Natalia Zinets e Max Hunder
KIEV (Reuters) - O alarme internacional sobre os ataques de artilharia no fim de semana contra o complexo nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, aumentou nesta segunda-feira, quando Kiev e Moscou trocaram acusações pelos ataques enquanto tentam lidar com os temores de que a batalha pelo controle da usina possa desencadear uma catástrofe.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, pediu acesso de inspetores nucleares da ONU à usina.
"Qualquer ataque a uma usina nuclear é uma coisa suicida", disse Guterres, em entrevista coletiva no Japão, onde participou da Cerimônia do Memorial da Paz de Hiroshima no sábado para marcar o 77º aniversário do primeiro bombardeio atômico do mundo.
Maior complexo do gênero na Europa, Zaporizhzhia está situado em uma região do sul tomada por invasores russos em março, quando a usina foi atingida, mas sem danos a seus reatores. A região agora está sendo alvo de uma contraofensiva pela Ucrânia.
Kiev pediu que a área ao redor da usina seja desmilitarizada e que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão de vigilância nuclear da ONU, possa entrar. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que também é a favor de uma visita da AIEA, acusando a Ucrânia de bloqueio e de tentar "fazer a Europa refém" ao bombardear a usina.
A Ucrânia culpou a Rússia pelos ataques do fim de semana ao redor do complexo, que ainda está sendo administrado por técnicos ucranianos. Disse que três sensores de radiação foram danificados e dois trabalhadores ficaram feridos por estilhaços.
A Reuters não pôde verificar a versão de nenhum dos lados sobre o que aconteceu.
Petro Kotin, chefe da empresa estatal de energia nuclear da Ucrânia, Energoatom, pediu que uma equipe de forças de paz seja implantada no local de Zaporizhzhia.
"A decisão que exigimos da comunidade mundial e de todos os nossos parceiros... é retirar os invasores do território da usina e criar uma zona desmilitarizada no território da usina", afirmou Kotin na televisão.
Ele sinalizou o perigo de os projéteis atingirem recipientes de combustível nuclear altamente radioativo. Se dois ou mais contêineres foram quebrados, "é impossível avaliar a escala dessa catástrofe".
"Tais ações insanas podem deixar a situação fora de controle e será uma Fukushima ou Chornobyl", disse Kotin.
Mark Wenman, especialista nuclear do Imperial College de Londres, minimizou o risco de um grande incidente, dizendo que os reatores de Zaporizhzhia são relativamente robustos e o combustível usado bem protegido.
"Embora possa parecer preocupante, e qualquer combate em uma instalação nuclear seja ilegal... a probabilidade de uma liberação nuclear grave ainda é pequena", declarou ele em comunicado.
O Ministério da Defesa da Rússia disse nesta segunda-feira que disparos ucranianos danificaram linhas de alta tensão que atendem à usina da era soviética e a forçou a reduzir a produção em dois de seus seis reatores para "evitar interrupções".
A autoridade russa instalada na região de Zaporizhzhia disse que as forças ucranianas atingiram o local com um lançador de foguetes múltiplos, danificando prédios administrativos e uma área de armazenamento.
Em uma ligação com repórteres, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que o bombardeio era "extremamente perigoso" e acrescentou: "Esperamos que os países que têm influência absoluta sobre a liderança ucraniana usem essa influência para descartar a continuação de tal bombardeio".
O pior desastre nuclear civil do mundo ocorreu em 1986, quando um reator no complexo de Chornobyl, no noroeste da Ucrânia, explodiu.