Por Roberto Samora
(Reuters) - As safras de soja do Brasil, Argentina e Paraguai deverão ser menores do que o esperado em 2021/22, afirmou o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) nesta quarta-feira, apontando um corte mais volumoso nas estimativas para as lavouras brasileiras diante de uma seca severa no Sul.
A produção de soja do Brasil, maior produtor e exportador global da oleaginosa, foi estimada em 139 milhões de toneladas, ante 144 milhões na previsão do mês anterior, segundo o relatório do USDA.
Já a safra da Argentina, maior exportador de óleo e farelo de soja, sofreu um corte de 3 milhões de toneladas, para 46,5 milhões de toneladas, enquanto a produção do Paraguai foi reduzida em 1,5 milhão de toneladas, para 8,5 milhões de toneladas.
Após o corte nas estimativas, os três países do Mercosul ainda deverão responder, de acordo com os dados do USDA, por mais da metade da produção global, estimada em 372,56 milhões de toneladas.
Com a redução na produção de soja de Brasil, Argentina e Paraguai, os estoques finais no mundo 2021/22 foram estimados em 95,2 milhões de toneladas, versus 102 milhões na projeção anterior e 99,88 milhões na safra passada.
A menor oferta de soja no Mercosul deve deixar o balanço global de oferta e demanda em patamares ainda mais apertados que os realizados na safra 2020/21, disse o Itaú BBA em análise nesta quinta-feira.
"Olhando para frente, a revisão para baixo da safra no Brasil atrelada à piora das condições das lavouras na Argentina e Paraguai sugerem que o mercado está se distanciando cada vez mais dos 12 dólares/bushel observados em outubro e novembro de 2021", acrescentou o banco.
A soja passou a subir na bolsa de Chicago após a divulgação sobre os cortes nas projeções da América do Sul, com o contrato mais ativo operando a cerca de 14 dólares por bushel.
"Eles baixaram o Brasil e a Argentina", disse Jim Gerlach, presidente da A/C Trading. "Acho que isso significa que seremos híper, hipersensíveis ao clima lá (na América do Sul)."
O Itaú BBA disse ainda que a situação nos três países do Mercosul deve "se sobrepor ao cenário de melhora da oferta nos Estados Unidos".
Nesta quinta-feira, o USDA informou também que a colheita da oleaginosa norte-americana em 2021 atingiu um recorde de 120,7 milhões de toneladas.
EXPECTATIVAS
A redução de 5 milhões de toneladas na safra de soja do Brasil refletiu "o tempo seco em dezembro e início de janeiro", disse o USDA em nota.
O volume reduzido, contudo, ficou aquém do reportado por consultorias privadas no país, onde alguns analisas apontam diminuição de mais de 10 milhões de toneladas, por conta da seca no Sul.
O número do USDA está mais perto da expectativa da indústria brasileira, com a associação Abiove estimando nesta quarta-feira a safra em 140 milhões de toneladas, após um recuo de 4,8 milhões.
Mas a previsão veio acima do corte esperado pelo mercado nos EUA, que apostava numa estimativa média de 141,6 milhões para a safra brasileira, um nível mais próximo das 140,5 milhões de toneladas previstas na véspera pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
As incertezas ocorrem porque a colheita brasileira apenas começou em Estados como o Mato Grosso e o Paraná, enquanto algumas projeções, por ora, não consideram uma quebra tão expressiva no Rio Grande do Sul.
A soja é a principal cultura do agronegócio do Brasil, com expectativa de gerar divisas com exportações da ordem de mais de 58 bilhões de dólares em 2022, considerando embarques de grãos, farelo e óleo, segundo projeção divulgada nesta quarta-feira pela Abiove.
Já a safra de milho do Brasil 2021/22 foi projetada pelo USDA em 115 milhões de toneladas, versus 118 milhões na previsão divulgada em dezembro.
No caso da Argentina, a produção de milho foi estimada em 54 milhões de toneladas, 500 mil toneladas abaixo do volume previsto em dezembro.
(Por Roberto Samora em São Paulo e Mark Weinraub em Chicago)