Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A recente alta do dólar tem sido insuficiente para impulsionar as vendas antecipadas de soja no Brasil, com agricultores retraídos em meio à alta de custos de insumos importados, à queda dos preços em Chicago e com bons volumes já comercializados em meses recentes.
"A venda não está muito forte", disse o analista Jerson Carvalho Pinto, da corretora Diversa, de Rondonópolis (MT).
Segundo ele, compradores estão oferecendo 63 reais a 64 reais por saca de soja com entrega em fevereiro e março no interior de Mato Grosso, enquanto os produtores pedem cerca de 70 reais para fechar negócios.
"O valor oferecido não está satisfazendo, porque o pessoal tem que comprar insumo em dólar", destacou.
O dólar tocou máxima de 3,8175 reais nesta quinta-feira, maior nível intradia desde 11 de dezembro de 2002.
Na direção contrária, os contratos futuros da soja na bolsa de Chicago estão sendo negociados perto do menor valor desde abril de 2013, pressionados por temores com a demanda chinesa e a proximidade de uma grande colheita nos Estados Unidos.
O contrato futuro mais negociado, o novembro, acumula perdas de cerca de 8 por cento desde o início de agosto.
O levantamento mais recente da consultoria AgRural sobre comercialização da safra 2015/16 --que começa a ser plantada em poucas semanas-- mostra que 30 por cento do volume esperado para a nova temporada já havia sido comercializado até o final de julho.
O índice é ligeiramente maior que o da média histórica e bem acima dos 10 por cento vendidos antecipadamente no mesmo período do ano passado.
"O dólar tem favorecido os negócios nas praças que vendem em real. Mas, para quem precisa vender em dólar, como é o caso de muita gente em Mato Grosso, o mercado está travado", disse a analista Daniele Siqueira, da AgRural.
O avanço das vendas em agosto foi de 5 pontos percentuais na média brasileira, contra aceleração de 8 pontos no mês anterior, segundo a AgRural
"Com um grande volume da produção, tanto da safra velha como da próxima temporada, comercializado, os vendedores continuam
na defensiva, de olho no comportamento cambial. Neste contexto, volume de negócios evolui de forma limitada", destacou a Informa Economics FNP em relatório enviado a clientes nesta quinta-feira.