Por Anthony Boadle e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja à China neste fim de semana para uma visita de cinco dias com o objetivo de reatar as relações com seu maior mercado de exportação e buscar novos investimentos chineses no Brasil.
Lula se encontrará com Xi Jinping no dia 28 de março em Pequim, o primeiro líder estrangeiro a visitar o presidente chinês desde que ele garantiu um terceiro mandato sem precedentes como presidente.
A viagem à China ocorre menos de dois meses depois que Lula se reuniu com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na Casa Branca, conforme o governo brasileiro almeja uma política externa pragmática, equilibrando os laços com seus principais parceiros comerciais, apesar das crescentes tensões entre os dois.
“O Brasil precisa manter uma posição flexível e pragmática nessa disputa entre China e Estados Unidos”, disse o senador Hamilton Mourão, que como vice-presidente brasileiro se reuniu com Xi em Pequim em 2019, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, cuja base ideológica animou suas disputas diplomáticas com Pequim.
Lula viaja com uma grande comitiva que inclui meia dúzia de ministros, além de governadores, parlamentares e 240 líderes empresariais, mais de um terço do setor agrícola brasileiro, que envia uma boa fatia de sua produção de carne bovina, soja e celulose para a China. Lula também visitará Xangai.
Autoridades do Itamaraty disseram que o Brasil quer diversificar seu comércio com a China para além das exportações de minério de ferro, soja, petróleo e carne, com preparativos para assinar acordos de tecnologia, inovação e desenvolvimento sustentável.
Em um sinal positivo inicial, a China retomou na quinta-feira as importações de carne bovina brasileira que haviam sido suspensas por um mês depois que um caso atípico de doença da vaca louca foi diagnosticado no Brasil.
Investimento chinês
Lula aproximou o Brasil da China e viajou duas vezes a Pequim durante seus dois primeiros mandatos presidenciais, entre 2003 e 2010.
Esta visita ocorre após um período de relações difíceis sob Bolsonaro, que fez campanha para o cargo usando uma retórica anti-China que continuou em seus primeiros anos no governo, quando um de seus filhos culpou a China pela pandemia do Covid-19.
Uma importante autoridade do governo disse à Reuters que muitas pessoas, incluindo o ex-vice-presidente Mourão e membros do Ministério da Agricultura na época, "tentaram evitar o desastre" e impedir que as coisas se transformassem em uma guerra ideológica".
As relações comerciais não foram afetadas pela tempestade diplomática, embora o investimento chinês tenha parado, em parte devido à pandemia que impediu que executivos da China visitassem o Brasil. Especialistas em comércio disseram que os investidores chineses não se sentiam bem-vindos sob o governo de Bolsonaro.
Marcos Caramuru, ex-embaixador brasileiro em Pequim, disse anteriormente à Reuters que o Brasil inicialmente se beneficiou com a guerra comercial dos EUA com a China sob o então presidente dos EUA, Donald Trump, mas lamentou que o investimento chinês no país tenha perdido força por alguns anos.
Em 2021, o investimento de empresas chinesas no Brasil voltou ao nível de 2017, segundo o Conselho Empresarial China-Brasil, que prevê crescimento constante nos próximos anos.
Pequim tem mantido relações abertas com Brasília seja qual for a coloração política do governo no poder, mas a China prefere investir quando as autoridades locais são mais amigáveis, disse Caramuru.
A China ultrapassou os Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil em 2009, e o Brasil é hoje o maior receptor de investimentos chineses na América Latina, impulsionados por gastos em linhas de transmissão de eletricidade de alta tensão e extração de petróleo.
Durante o governo Bolsonaro, muitas empresas chinesas interromperam os planos com o governo federal e, em vez disso, avançaram nos negócios com os governos estaduais, especialmente no Nordeste, onde o PT de Lula é mais forte.
Novos projetos chineses incluem a maior ponte da América Latina em Salvador, e mais recentemente planos para fabricar veículos elétricos em um antigo complexo industrial da Ford (NYSE:F) no Estado, com um potencial de minerar lítio nas proximidades e produzir baterias para exportação.