Por Julie Steenhuysen
CHICAGO (Reuters) - As duas primeiras vacinas contra Covid-19 a entrarem em testes de larga escala nos Estados Unidos não serão administradas a gestantes neste ano, o que cria dúvidas sobre como esta população vulnerável será protegida do coronavírus, disseram pesquisadores à Reuters.
A Moderna e a Pfizer, que formou uma parceria com a alemã BioNTech, iniciaram nesta semana, separadamente, testes clínicos que usam uma nova tecnologia genética sem comprovação. As duas empresas estão exigindo provas de teste de gravidez negativo e o comprometimento com o uso de métodos contraceptivos das mulheres em idade fértil recrutadas para os testes.
As farmacêuticas dizem que primeiro precisam ter certeza de que as vacinas são seguras e eficientes de maneira mais geral. Além disso, agências reguladoras dos EUA exigem que estudos seguros em fêmeas grávidas de animais antes de as vacinas serem testadas em mulheres grávidas para garantir que não prejudicam o feto ou provocam abortos.
Especialistas em bioética, em vacinas e em saúde materna argumentam há anos que gestantes deveriam ser incluídas no início de testes de vacinas pandêmicas para não terem que esperar até muito depois de uma candidata bem-sucedida surgir. O debate não avançou durante surtos recentes de Ebola e Zika, mas adquiriu nova urgência na era da Covid-19, já que estudos mostram que gestantes correm mais risco de ter doenças graves decorrentes do novo coronavírus.
"É um problema, porque se elas (vacinas) não são testadas na gravidez, depois podem não estar disponíveis ou as pessoas podem não estar confiantes para oferecê-las", disse a doutora Denise Jamieson, chefe de ginecologia e obstetrícia da Emory Healthcare de Atlanta.
De acordo com o censo dos EUA, 75,4 milhões de mulheres norte-americanas estavam em idade reprodutiva --entre os 15 e os 50 anos-- em 2012. Atualmente, as gestantes são orientadas a tomar vacinas contra gripe e coqueluche e algumas outras, dependendo das circunstâncias individuais, mas nenhuma destas foi testada especificamente, nem sua segurança foi comprovada, para mulheres grávidas.
A Johnson & Johnson, que iniciou um teste de segurança de pequena escala de sua vacina contra Covid-19 nesta semana, está usando a mesma tecnologia inerente à sua vacina contra Ebola, que foi administrada em mil gestantes da República Democrática do Congo. Agora, estudos mais abrangentes desta vacina estão em andamento.