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Wizard diz desconhecer gabinete paralelo e se recusa a responder perguntas na CPI

Publicado 30.06.2021, 11:46
© Reuters. 30/06/2021
REUTERS/Adriano Machado

Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) - O empresário Carlos Wizard disse em pronunciamento à CPI da Covid no Senado que desconhece a existência de um gabinete paralelo de assessoramento do presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia de Covid-19 e decidiu exercer seu direito de não responder perguntas dos senadores.

"Afirmo aos senhores, com toda a veemência, que jamais tomei conhecimento de qualquer governo paralelo. Se, por ventura, esse suposto governo paralelo existiu --ou melhor, gabinete paralelo-- eu jamais tomei conhecimento ou tenho qualquer informação a esse respeito", afirmou o empresário.

Wizard disse ainda que nunca se reuniu privadamente com Bolsonaro, apenas em eventos públicos, e negou ter qualquer influência sobre o pensamento do presidente.

Após seu pronunciamento inicial, Wizard disse que exerceria o direito garantido a ele por decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), de permanecer em silêncio durante o depoimento.

"Me reservo ao direito de permanecer em silêncio", repetiu o empresário diversas vezes diante das perguntas do relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Apesar da decisão de Wizard, os senadores decidiram que manterão os questionamentos ao empresário, mesmo que ele recorra ao direito de ficar calado.

Wizard tem participação nas operações brasileiras das franquias norte-americanas de fast food Pizza Hut, Taco Bell e KFC, além de ser dono da rede de lojas de produtos naturais Mundo Verde e de ter participação na rede de escolas de idiomas Wise Up, entre outras marcas.

Em seu pronunciamento à CPI, ele disse que conheceu o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, quando fez um trabalho voluntário em Roraima de apoio a refugiados venezuelanos que vieram para o Brasil.

Ele chegou a ser indicado por Pazuello para ocupar a Secretaria de Ciência e Tecnologia da pasta, mas após atuar por 30 dias no ministério decidiu não assumir efetivamente o posto.

TRATAMENTO PRECOCE

Por diversas vezes, especialmente em lives em redes sociais, Wizard defendeu publicamente o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, que ficaram conhecidos como "tratamento precoce" ou "kit Covid", composto por remédios como hidroxicloroquina --que tem eficácia comprovada contra a malária-- e ivermectina --um antiparasitário. A Covid-19 é causada por um vírus.

Em seu pronunciamento inicial, antes de se recusar a responder quaisquer perguntas feitas pelos senadores, Wizard reconheceu não ser médico e exaltou a importância das vacinas.

"Eu não sou médico. No início da pandemia, havia uma compreensão sobre o uso de alguns medicamentos para o combate da doença", afirmou.

"Na condução da pandemia, com o passar do tempo e o aprofundamento dos estudos, novos entendimentos se estabeleceram. Atualmente, há posições contrárias ao tratamento preconizado no passado. A despeito da conduta médica adotada, a ciência comprova que a vacinação é o elemento essencial para o controle dessa pandemia. Por isso, sempre apoiei a imunização da população em geral, a ponto de eu querer doar vacinas ao povo brasileiro."

No entanto, Renan mostrou um vídeo em que Wizard elogia a adoção da cloroquina no combate à pandemia na cidade de Porto Feliz, interior do Estado de São Paulo, e ironiza o que, segundo ele, foram apenas cinco mortes provocadas pela doença no município.

Parecendo estar rindo, Wizard afirma que as cinco pessoas que morreram foram aquelas que decidiram ficar em casa e não buscaram o tratamento precoce.

O vídeo irritou senadores e os parlamentares Otto Alencar (PSD-BA) e Humberto Costa (PT-PE), que são médicos, além do relator da CPI, chamaram Wizard de irresponsável e o acusaram o empresáro de charlatanismo, curandeirismo e exercício ilegal da medicina.

Um dos principais governistas da CPI, o senador Marcos Rogério (DEM-RO), por sua vez, elogiou Wizard pelos trabalhos voluntários que realiza e pediu desculpas ao empresário pelo que afirmou ser um "constrangimento" a que ele estava sendo submetido.

© Reuters. 30/06/2021
REUTERS/Adriano Machado

"Quero iniciar cumprimentando o brasileiro Carlos Wizard Martins, pai de família, trabalhador, homem de histórico honesto, de boa reputação e dedicado a causas humanitárias", afirmou.

"E eu queria, para concluir, fazer aqui, em nome dos brasileiros de bem, daqueles que se dedicam a causas nobres, daqueles que se preocupam com o próximo, cumprindo um mandamento do Cristo, que, aliás, é o maior mandamento --amar a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo--, em nome desses brasileiros, lhe peço perdão pelo constrangimento que Vossa Senhoria e, pelo papel que exerce, Vossa Excelência está se submetendo no âmbito dessa CPI no dia de hoje."

Apontado como integrante de um suposto gabinete paralelo que assessoraria Bolsonaro no combate à pandemia, Wizard foi incluído pelo relator da CPI na lista de investigados pela comissão e já teve sigilos quebrados pelo colegiado.

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