O governo do Canadá tentou impor sanções e bloqueios, mas ainda não conseguiu neutralizar totalmente as doações ao Freedom Convoy (Comboio da Liberdade). Até agora, as autoridades conseguiram recuperar apenas 30% dos Bitcoins (BTC) doados ao grupo.
De acordo com dados da blockchain, o comboio recebeu cerca de 21 BTC em doações, ou R$ 4,1 milhões na cotação atual. No entanto, o governo do Canadá apreendeu somente 6 BTC, ou R$ 1,1 milhões. Ou seja, apenas 26% dos fundos conseguiram ser bloqueados.
Quanto aos 74% dos BTC doados, eles foram desviados através de várias formas. Esses desvios foram cruciais para impedir que as autoridades pudesses sancionar estas carteiras. Mesmo assim, o governo ainda conseguiu congelar e impor sanções sobre 34 endereços.
CONFIRA: Cotações das criptomoedas
Até o momento, o Serviço de Polícia de Ottawa (OPS), a Polícia Provincial de Ontário (OPP) e a Real Polícia Montada Canadense (RCMP) tentam recuperar os BTC doados aos caminhoneiros. Mas observadores dizem que eles não conseguiram impedir que os usuários conseguissem desviar os fundos.
“Há uma limitação enorme para ordens de congelamento quando elas se relacionam com carteiras de criptomoedas. Elas podem ser simplesmente transferida para outro endereço de carteira que não está congelado e, em seguida, outro e mais outro. Isso serve para ocultar as fontes e impedir o rastreio”, disse Mathew Burgoyne, advogada especialista em moedas digitais.
Seguindo o dinheiro
Como a blockchain do BTC é pública e pode ser auditada por qualquer um, os dados das carteiras não são difíceis de verificar. Nesse sentido, a emissora canadense CBC apurou todas as movimentações dos endereços ligados ao comboio.
De acordo com a pesquisa de blockchain concluída pela CBC News, a ordem de congelamento das carteiras foi de fato emitida. Em seguida, centenas de milhares de dólares canadenses em BTC foram movimentados das carteiras bloqueadas.
Em um exemplo analisado pela CBC, uma carteira contendo três bitcoins (aproximadamente R$ 600 mil) foi esvaziada em poucos dias. A mesma conta recebeu quase 15 bitcoins em 16 de fevereiro.
O total não foi movido todo de uma vez, mas sim em transações de pequeno valor. Segundo a CBC, foram realizadas transações de cerca de R$ 700 (0,004 BTC na época). Em outro caso, 14 BTC foram divididos em 101 endereços diferentes, cada qual recebendo 0,144 BTC.
Esse padrão aponta para dois possíveis resultados. O primeiro deles é que o montante foi dividido entre vários endereços menores visando evitar os bloqueios. Com mais endereços contendo BTC, as chances do governo conseguir bloquear mais fundos diminui.
Outra possibilidade é que o dinheiro tenha sido distribuído para os membros do comboio após o fim da campanha. Dado que os valores são baixos, é provável que os fundos tenham recebido este destino.
“Eu presumo, embora não possa afirmar, que isso foi em parte uma distribuição das carteiras. Eles (organizadores do protesto) pegaram uma grande carteira e moveram seus fundos para centenas de carteiras menores. Depois, eles entregam as senhas daquela carteira menor para o destinatário final “, disse a advogada Monique Jilesen.
Protestos e bloqueios
O chamado Comboio da Liberdade ocupou as ruas do centro de Ottawa, capital do Canadá, por mais de três semanas em fevereiro. Eles protestaram contra a imposição de passaportes de vacina para os caminhões poderem cruzar a fronteira com os Estados Unidos.
De acordo com os caminhoneiros manifestantes, os passaportes causariam atrasos nas viagens, o que impactaria no preço final. Além disso, a medida não teria razão de existir, uma vez que 85% dos caminhoneiros canadenses já estavam completamente vacinados.
No início do bloqueio, os caminhoneiros fecharam estradas, pontes e a maioria dos acessos à Ottawa. Pressionado, o primeiro-ministro Justin Trudeau invocou o Ato de Emergências no dia 14 de fevereiro, algo inédito na história canadense. O ato deu ao governo poderes para, entre outros atos, congelar as contas bancárias de pessoas que doaram dinheiro aos caminhoneiros.
Diante desta ameaça, caminhoneiros e pessoas recorreram às criptomoedas, sobretudo ao BTC. Em poucos dias, campanhas de arrecadação de BTC foram montadas em todo o país. Em todos os casos, os manifestantes captaram altas somas de dinheiro em poucos dias.
Como resultado, o governo do Canadá investiu contra as carteiras e exchanges de criptomoedas, exigindo que os fundos fossem bloqueados. No entanto, as empresas se recusaram a fazer esse bloqueio e ferir a liberdade dos seus clientes.