JOHANESBURGO (Reuters) - A primeira entrevista conhecida do falecido líder anti-apartheid sul-africano Nelson Mandela à televisão foi descoberta, e as imagens, que se acredita serem de 1956, mostram um ativista barbudo prometendo combater o racismo em tom desafiador.
A Fundação Nelson Mandela, uma ONG dedicada à memória do ex-presidente da África do Sul, disse que a filmagem de 24 segundos provavelmente foi feita em 1956 durante o "Julgamento de Traição", que terminou em 1961 com a absolvição de Mandela e dezenas de outras pessoas de acusações de traição.
Mandela, que morreu em 2013 aos 95 anos de idade, se tornou o primeiro presidente negro do país em 1994. Ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1993 por seus esforços para promover a reconciliação racial em sua nação racialmente dividida.
Na filmagem, Mandela está barbudo e corpulento, veste um terno cinza com gravata e aparece de pé diante de uma parede simples com divisórias.
"Desde seus primórdios, o Congresso Nacional Africano estabeleceu para si mesmo a tarefa de lutar contra a supremacia branca", disse Mandela, referindo-se ao movimento que viria a liderar e que é o partido governista sul-africano desde o fim do apartheid, em 1994.
"Nós sempre consideramos errado que um grupo racial domine outro grupo racial. E desde seus primórdios o Congresso Nacional Africano vem lutando, sem hesitação, contra todas as formas de discriminação racial, e iremos continuar a fazê-lo até que a liberdade seja conquistada", afirmou Mandela, que tinha cerca de 38 anos à época.
A Fundação Nelson Mandela disse que a entrevista ocorreu na Velha Sinagoga de Pretória, onde o Julgamento de Traição foi realizado, e transmitida em 31 de janeiro de 1961 por uma emissora de TV holandesa, a AVRO.
Anteriormente se acreditava que a primeira entrevista de Mandela à televisão tivesse acontecido em maio de 1961, quando ele estava escondido. Ele viria a ser preso no ano seguinte e libertado somente em 1990.