Por Gertrude Chavez-Dreyfuss
NOVA YORK (Reuters) - Quando Peggy e Marco Lachmann-Anke souberam em janeiro que hackers quebraram uma senha de 40 caracteres e limparam sua carteira de criptomoedas, eles não foram à polícia nem alertaram o emissor dos tokens, o grupo de tecnologia Iota, com sede em Berlim.
Eles compraram mais moedas.
O casal alemão que mora em Chipre, que se descrevem como educadores financeiros, imaginou que não tinha chances de recuperar as moedas e nem estava claro quem poderia resolver o caso. No entanto, eles assumiram a perda de cerca de 14 mil dólares - algo que pode acontecer quando se aposta em uma nova e empolgante tecnologia em um mercado ainda não regulamentado.
"Nós realmente acreditamos em criptomoedas. Estudamos isso por cerca de um ano antes de investir, então estamos cientes dos riscos", disse Peggy Lachmann-Anke. "Não há nada que pudéssemos fazer."
Longe de ser incomum, o episódio é emblemático para um mercado onde poucas regras se aplicam e onde a fé dos investidores anda de mãos dadas com a crença de que a tecnologia blockchain também ajuda os criminosos a cobrir seus rastros tão bem que tentar pegá-los é uma tolice.
Patrick Wyman, agente especial de supervisão do FBI, a polícia federal dos EUA, na seção de crimes financeiros da unidade de combate à lavagem de dinheiro, reconhece que as criptomoedas apresentam alguns desafios únicos.
"Um sistema de moeda descentralizado como o bitcoin, ou outra forma de moeda virtual, não é governado por nenhuma entidade, controle de atividade suspeita e qualquer conformidade contra a lavagem de dinheiro", disse Wyman à Reuters.
Estimativas mostram que os crimes envolvendo criptomoedas estão aumentando, acompanhando o rápido crescimento do mercado. Isso força investigadores a se concentrarem em casos grandes, afirmam profissionais de segurança e autoridades, deixando os pequenos investidores sem cobertura.
"Não podemos fingir que toda agência de segurança pública está destinando recursos para todos os crimes. Isso não seria possível", disse Jaroslav Jakubcek, analista da Europol, que atua como centro de cooperação, especialização e inteligência da União Europeia.
CASOS NÃO REPORTADOS
As autoridades ainda encorajam as pessoas a denunciarem o roubos de criptomoedas à polícia local, dizendo ignorálos apenas encoraja os criminosos.
Mas como muitas vítimas simplesmente não veem razão para denunciar, o roubo de criptomoedas é muito mais comum do que qualquer estimativa publicada sugere, segundo profissionais de segurança.
De acordo com a consultoria Autonomous Next e Crypto Aware, que trabalha com investidores afetados por fraudes com moedas virtuais, cerca de 15 por cento das criptomoedas foram roubadas entre 2012 e o primeiro semestre de 2018, representando um valor acumulado de 1,7 bilhão de dólares no momento do roubo e a tendência é crescente. Só no primeiro semestre deste ano, mais de 800 milhões de dólares já foram roubados, segundo os dados.
No entanto, Lex Sokolin, sócio e diretor global de estratégia de fintech na empresa, estima que até 85 por cento dos crimes não são registrados e diz que as estatísticas publicadas representam apenas roubos relatados publicamente.
Entrevistas da Reuters com meia dúzia de vítimas pintam um quadro semelhante. Desse grupo, apenas dois relataram suas perdas para as autoridades e um amargou grandes perdas com investimentos em criptomoedas.
Armin Fischer, especialista em TI com sede em Viena, disse que perdeu cerca de 5,3 mil dólares em um esquema fraudulento envolvendo a moeda ether em meados do ano pasado e imediatamente alertou a polícia local para descobrir que o agente policial não tinha ideia do que era o assunto.
Ele disse que levou muitos meses batendo em portas para que seu caso fosse finalmente aceito pelo escritório da promotoria de Viena, mas ainda está pendente.
(Por Gertrude Chavez-Dreyfuss)