Por Parisa Hafezi
ANCARA (Reuters) - As negociações sobre o programa nuclear do Irã podem ser prorrogadas se não houver acordo em questões pontuais até o prazo definido no fim de novembro, teria dito o principal representante iraniano nesta sexta-feira, na primeira indicação de que um adiamento está sendo considerado.
"O Irã e a P5+1 (as principais potências do mundo) estão seriamente comprometidos a resolver as questões remanescentes até novembro... Mas tudo, incluindo uma prorrogação, é possível se não chegarmos a um acordo", disse Abbas Araqchi, de acordo com a agência de notícias semioficial Fars.
O Irã e os outros seis países --Estados Unidos, França, Alemanha, China, Rússia e Reino Unido-- esperam conseguir resolver o impasse de mais de uma década com o Irã para reduzir as tensões regionais e aliviar o risco de outra guerra no Oriente Médio.
Israel ameaçou, repetidas vezes, usar força militar contra as instalações nucleares iranianas se a diplomacia não for capaz de resolver o impasse.
O Irã rejeita as alegações das potências ocidentais e dos seus aliados que está tentando produzir armas nucleares, mas se recusou a parar de enriquecer urânio e, por isso, foi alvo de sanções dos Estados Unidos, da União Europeia e do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.
Os principais diplomatas dos Estados Unidos, do Irã e da União Europeia vão se encontrar em Viena na próxima semana para trabalhar em um acordo global antes do prazo de 24 de novembro que busca limitar as atividades nucleares de Teerã para, em troca, gradualmente eliminar as sanções contra o Irã.
"O Irã e as potências ocidentais estão muito determinados e seriamente comprometidos a chegar a um resultado. Questões como o enriquecimento e o fim das sanções serão discutidos em Viena", disse Araqchi. "Ainda estamos muito otimistas sobre cumprir o prazo."
Os diplomatas iranianos e ocidentais afirmam que há pontos de vistas significativamente diferentes sobre o tamanho futuro da atividade de enriquecimento de urânio do Irã.
O enriquecimento é o processo de purificar o urânio para usá-lo como combustível para usinas elétricas nucleares ou, se enriquecido até um grau muito alto de pureza, para bombas.
Uma série de encontros tem acontecido desde o início do ano para tentar diminuir as diferenças. Uma porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos disse nesta semana que Washington ainda acredita na possibilidade de chegar a um acordo até o fim do prazo estabelecido.
Além do enriquecimento, a velocidade do cancelamento das sanções vem sendo outro ponto de divergência, no qual as delegações iraniana e ocidental têm opiniões bastante díspares.
NECESSIDADE DE RESULTADOS ADEQUADOS
Os Estados Unidos e os europeus estão preparados para eliminar as suas sanções unilaterais de maneira muito rápida se um acordo aceitável for fechado, segundo disseram diplomatas ocidentais, mas as medidas da ONU seriam canceladas gradualmente com base no compromisso iraniano com um futuro acordo.
Araqchi espera que um progresso substancial possa ser feito nas opiniões divergentes no encontro entre representantes do Irã e das seis potências ocidentais na próxima semana.
"Se não conseguirmos ter resultados adequados nesta ocasião (em Viena), vamos com certeza perder o prazo (de novembro)", disse Araqchi. "Assim, o Ocidente (P5+1) deveria usar essa oportunidade para encontrar soluções apropriadas."
Para alguns analistas, o cumprimento do prazo é impossível.
"Está cada vez mais claro que um acordo não vai ser fechado até o fim do prazo de 24 de novembro", disse Mark Fitzpatrick, diretor do programa de não-proliferação nuclear no Instituto Internacional para Estudos Estratégicos (IISS).
No ano passado em Genebra, Irã e as seis potências fecharam um acordo preliminar sob o qual Teerã conseguiu o relaxamento de algumas sanções em troca de ter paralisado o seu trabalho nuclear mais crítico.
Mas as partes não conseguiram cumprir o prazo inicial de 20 de julho para ter um acordo amplo e estabeleceram um novo prazo para 24 de novembro.
"Chegar a um acordo completo até o dia 24 de novembro não parece mais algo factível. O que é possível conquistar seria um avanço que pode justificar mais tempo no relógio para a diplomacia", disse o analista iraniano Ali Vaez do instituto International Crisis Group.
(Reportagem adicional de Fredrik Dahl, em Viena)