Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação oficial brasileira desacelerou com força em março diante dos preços mais baratos de passagens aéreas e da gasolina, e foi ao nível mais baixo para o mês em 24 anos, ratificando o espaço para o Banco Central cortar novamente os juros básicos.
Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve variação positiva de 0,09 por cento, sobre alta de 0,32 por cento em fevereiro, informou nesta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O dado é o mais fraco para março desde a implantação do Plano Real em 1994 e ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters com economistas, de avanço de 0,12 por cento na comparação mensal.
Em 12 meses, o IPCA subiu até março 2,68 por cento, desacelerando ante os 2,84 por cento de fevereiro e ainda mais abaixo do piso da meta deste ano, de 4,5 por cento com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
A expectativa em pesquisa da Reuters era de avanço de 2,71 por cento na base anual e o dado em 12 meses também é o mais fraco para março desde o Plano Real.
"A sensação que a gente tem é que ainda há certa insegurança em relação aos caminhos que a economia vai seguir", afirmou o gerente do IBGE Fernando Gonçalves. "Ainda há instabilidade econômica com desemprego e renda. Algumas pessoas também estão inseguras em gastar", acrescentou.
Dois grupos registraram deflação em março, segundo o IBGE, com destaque para a queda de 0,25 por cento nos preços de Transportes, após avanço de 0,74 por cento em fevereiro.
A deflação de 15,42 por cento nas passagens aéreas --um item volátil-- após o fim das férias exerceu o principal impacto negativa no índice do mês. Mas o preço dos combustíveis também teve influência importante, com recuo de 0,04 por cento e destaque para a gasolina, cujos preços caíram 0,19 por cento.
"Não estamos num cenário de inflação pressionada, pelo contrário. Mesmo se não houvesse a baixa das passagens, o índice seria de 0,16 por cento", disse Gonçalves.
Também apresentou queda nos preços em março o grupo Comunicação, de 0,33 por cento, contra variação positiva de 0,05 por cento no mês anterior, diante da redução nas tarifas das ligações de telefone fixo para móvel, em vigor desde 25 de fevereiro.
Por outro lado, o maior impacto de alta ficou para as frutas, cujos preços subiram 5,32 por cento devido à sazonalidade da oferta, levando o grupo Alimentação e Bebidas a subir 0,07 por cento depois de deflação de 0,33 por cento em fevereiro.
Diante da fraqueza da inflação, o BC já cortou a taxa básica de juros Selic para a mínima histórica de 6,5 por cento e indicou nova redução em maio, antes de encerrar o ciclo de flexibilização.
De acordo com o presidente do BC, Ilan Goldfajn, uma pausa no processo de flexibilização monetária parece ser necessária após a próxima reunião para avaliar os efeitos das defasagens da política monetária e tomar uma decisão sobre seus próximos passos.
(Edição de Patrícia Duarte)