Ramón Santaularia.
Copenhague, 15 dez (EFE).- A Cúpula da ONU sobre Mudanças
Climáticas (COP15), em Copenhague, estuda hoje uma minuta sobre o
financiamento dos efeitos do fenômeno nos países pobres por meio de
um fundo administrado por um mecanismo ainda não determinado, e em
meio a pressões devido à proximidade de seu fim, na sexta-feira.
O documento, que circulava na conferência, não continha números
nem porcentagens e sublinhava que o novo fundo "respaldará projetos,
programas, medidas e outras atividades" para mitigar os efeitos da
mudança climática, assim como transferência tecnológica com esse
fim.
O mecanismo "deverá proporcionar acesso efetivo, simplificado e
melhorado aos recursos financeiros no momento adequado, incluindo o
acesso direto", segundo o texto.
No entanto, não precisava o montante que deverá ser transferido
aos países receptores, o centro da discórdia da cúpula e motivo de
um sério enfrentamento entre os Estados ricos e as nações em
desenvolvimento, lideradas pelo grupo de não-alinhados.
José Antonio Hernández de Toro, porta-voz da Oxfam Internacional,
disse a respeito que faltam as porcentagens e quantidades no texto,
que deverão ser estabelecidas pelos ministros do Meio Ambiente o
mais rápido possível para que os chefes de Estado e de Governo, que
começaram a chegar hoje a Copenhague, possam referendá-lo.
Hernández de Toro criticou também o fato de que na minuta não
apareça a natureza jurídica sobre a qual deve apoiar-se o
financiamento destinado à mitigação e à adaptação à mudança
climática.
A pressão para alcançar um acordo, após já terem chegado alguns
dos 110 chefes de Estado e de Governo, crescia em alguns momentos,
enquanto os grupos de trabalho se reuniam para buscar um consenso,
dificultado ainda pelas enormes divergências entre países ricos e
pobres sobre as medidas contra a mudança climática.
À tarde foi suspenso, até novo aviso, um plenário para analisar
as funções do Protocolo de Kioto, documento vigente até 2012 que
regula as emissões de gases de efeito estufa de 37 países
industrializados e que as nações em desenvolvimento querem que tenha
alcance global.
Para apoiar as reivindicações sobre um acordo vinculativo em
Copenhague que estipule cotas globais de emissões, manifestações
foram convocadas pelo quarto dia consecutivo na capital
dinamarquesa, com um novo total de mais de 1.300 detidos, que em sua
maioria já foram colocados em liberdade.
Entre eles estava o porta-voz da Climate Justice Action, o alemão
Tadzio Müller, que foi detido hoje pela Polícia na saída de uma
entrevista coletiva no Bella Center, sede da conferência, por ser
considerado um dos líderes dos protestos contra a mudança climática.
Desde a abertura da cúpula, em 7 de dezembro, Copenhague se
transformou em um contínuo desfile de personalidades, como o
ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e seu vice-presidente
Al Gore; o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger; ou o
arcebispo da África do Sul, Desmond Tutu.
O primeiro líder político a chegar foi o presidente do Zimbábue,
Robert Mugabe, que precedeu o príncipe Charles da Inglaterra, que
deve ser seguido hoje mesmo pelo primeiro-ministro do Reino Unido,
Gordon Brown.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve chegar na madrugada
de quarta-feira, além do boliviano, Evo Morales, que participarão
amanhã da cúpula junto com o líder mexicano, Felipe Calderón; o
venezuelano; Hugo Chávez; e o colombiano, Álvaro Uribe.
Em um ato simbólico, o arcebispo Tutu e a ex-presidente irlandesa
Mary Robinson publicaram um veredicto global sobre o custo humano da
mudança climática.
Na sentença, organizada pela Oxfam Internacional, Mary afirmou
que a mudança climática "está minando os direitos humanos em uma
proporção sem precedentes".
Tutu recorreu a sua própria experiência sobre o fenômeno e fez um
pedido aos líderes do mundo para que escutem as vozes dos mais
vulneráveis.
"Eu também estou aqui diante dos senhores como testemunha. Vi com
meus próprios olhos as mudanças que meu país, a África do Sul,
sofreu. O Cabo do Sul atualmente está passando pela pior seca que se
tem notícia. Não há comida suficiente. Há muito pouca água. A
situação se torna mais e mais desesperadora", disse o arcebispo. EFE