Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - A forte desaceleração da economia brasileira neste ano surpreendeu economistas e vem contaminando ainda mais as expectativas de crescimento para 2015, mas a perspectiva de aumento ainda maior dos preços administrados evitará que o crescimento lento se traduza em menos inflação.
Ao contrário, a visão majoritária agora é de que a elevação nos preços não vai ceder até o fim de 2015. Esse cenário mais frágil, segundo analistas consultados pela Reuters, vai tornar a vida do próximo governo ainda mais dura, obrigando-o a adotar medidas dolorosas.
"Ninguém esperava que a atividade desacelerasse tanto. À medida que os dados vão mostrando essa piora, os modelos de previsão vão incorporando e jogando a deterioração para frente", explicou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima.
Esse movimento é claro nas estimativas de economistas compiladas pelo relatório Focus, do Banco Central. As projeções medianas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2014 e 2015 começaram o ano em 2 e 2,5 por cento, respectivamente, e foram caminhando gradualmente para baixo. Na última leitura, os números passaram a 0,33 e 1,04 por cento.
O pessimismo vem das sucessivas decepções com o ritmo da atividade neste ano. No segundo trimestre, a economia brasileira encolheu 0,6 por cento, entrando em recessão técnica pela primeira vez desde a crise de 2008/09.
No caso da inflação oficial, as expectativas também estão longe de serem otimistas. No início do ano, economistas esperavam que o IPCA desacelerasse de 5,96 por cento em 2014 para 5,5 por cento no ano que vem.
No começo de maio passado, a projeção para este ano chegou a superar o teto da meta do governo --de 4,5 por cento, com margem de dois pontos percentuais--, passando a perder força, enquanto a previsão para 2015 acelerou o passo.
Agora, economistas esperam que o IPCA fique em 6,29 por cento tanto neste ano quanto no próximo. Ou seja, o quadro é de inflação elevada e sem arrefecimento no médio prazo, mesmo após o recente ciclo de aperto monetário, que levou a taxa básica de juros a 11 por cento ao ano.
"Há uma tendência de melhora da inflação quando se olha para a influência da atividade, mas esse ajuste dos administrados dificulta bastante que isso se concretize", disse o economista-chefe da consultoria LCA, Bráulio Borges.
Segundo as últimas estimativas do Focus, a inflação dos preços monitorados deve ficar em 7 por cento no ano que vem, a maior em dez anos se concretizada. Neste ano, ela deve ir a 5,10 por cento.
Agentes econômicos contam com fortes reajustes de tarifa de energia elétrica e nos preços da gasolina após as eleições de outubro.
CONSUMO E INVESTIMENTO
Analistas atribuem o crescimento fraco da economia brasileira ao esgotamento do modelo de crescimento baseado no consumo e não no investimento. Segundo eles, embora já tenham sido adotadas algumas medidas que poderiam ajudar a reverter a situação --como as concessões de infraestrutura--, elas vieram tarde demais para evitar que a economia sofra em 2014 e 2015.
O impacto da Copa do Mundo no Brasil sobre os indicadores econômicos tem se mostrado mais negativo do que esperavam os economistas. Os últimos indicadores relativos a junho e julho, principalmente aqueles relacionados ao varejo e à indústria, têm mostrado que o Mundial mais atrapalhou do que ajudou, pelo menos durante o período.
As expectativas dos economistas para a produção industrial também têm sido golpeadas. No início do ano, o Focus mostrava expansão da indústria de 2,20 por cento neste ano e 2,89 por cento no próximo. Agora, a previsão é de contração de 1,98 por cento em 2014 e crescimento de 1,50 por cento em 2015.
A condução da política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff, que tentará a reeleição em outubro, tem sido criticada por agentes do mercados financeiro. Contudo, mesmo no caso de sua vitória na corrida presidencial, economistas esperam mudanças de rumo.
"O mercado está apostando que, independentemente de quem for eleito, o próximo ano vai ser um ano de ajuste", afirmou o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani.
O principal canal em que esse ajuste se concentraria, segundo analistas, são as contas públicas. O raciocínio é que como a atividade fraca limita o espaço para que a inflação seja combatida com alta dos juros, o governo seria obrigado a apertar os gastos.
Isso permitiria que a economia mostrasse recuperação nos próximos anos, com a inflação em queda, apesar de ainda na casa dos 5 por cento.
Segundo o Focus, a atividade deve expandir 2,32 por cento em 2016 e 3,0 por cento nos dois anos seguintes. Já o IPCA iria a 5,50 por cento em 2016 e 2017 e a 5,17 por cento em 2018.