Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O Banco Central disse nesta terça-feira que as instituições financeiras do Brasil apresentaram condições mais restritivas de aprovação de crédito ao longo de 2022, o que viu como consistente com o cenário de taxas de juros crescentes.
Em seu Relatório de Economia Bancária referente a 2022 a autarquia notou, no entanto, que a carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) registrou forte crescimento pelo terceiro ano consecutivo, ainda que com desaceleração na expansão do crédito no segundo semestre.
"O ano conta uma história de duas metades: primeira metade em que teve uma expansão do crédito mas uma mudança do mix, indo para o crédito mais emergencial... e um segundo semestre com desaceleração no crescimento do crédito livre e aumento do crédito direcionado", disse o diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, em entrevista coletiva para comentar o relatório.
No relatório, o Banco Central disse que, de acordo com sua Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito, "as instituições financeiras apresentaram condições mais restritivas de aprovação de crédito ao longo de 2022, consistente com o cenário de taxas de juros crescente".
No segundo semestre do ano passado, a autarquia elevou a taxa básica de juros Selic a 13,75% ao ano, no que representou o maior patamar desde 2016, à medida que buscava conter a inflação. A taxa segue nesse patamar até o momento.
"A elevação da taxa Selic foi transmitida para os juros cobrados nas operações de crédito contratadas em 2022", avaliou o Banco Central no REB. Segundo o documento, a taxa média de juros dos novos contratos aumentou de forma mais destacada no segmento de pessoas físicas com recursos livres.
"No que se refere à inadimplência, houve aumento nos atrasos do crédito livre, especialmente no segmento das famílias", disse o BC.
De acordo com o relatório, a expansão do crédito voltado para as pessoas físicas em 2022 ocorreu de forma heterogênea entre as regiões geográficas, com o Norte apresentando o maior crescimento e o Sudeste, o menor.
No segmento voltado às pessoas jurídicas, o ritmo de expansão do crédito em 2022 também foi heterogêneo, com a região Sudeste mais uma vez apresentando o menor avanço. A expansão do crédito para pessoas jurídicas em 2022 foi puxada pelas micro, pequenas e médias empresas, disse o Banco Central.
Segundo o BC, a rentabilidade do sistema bancário brasileiro permaneceu em posição intermediária quando comparada a sistemas bancários de outros países ao longo de 2022. "A maioria dos países, inclusive o Brasil, manteve rentabilidade acima daquela obtida em 2020, ano em que houve o choque da pandemia", disse a instituição no relatório.
CONCORRÊNCIA E CONCENTRAÇÃO
A concorrência nos mercados de crédito aumentou em 2022 para instituições financeiras dos segmentos bancário, de cooperativas e de instituições não bancárias, informou o BC.
Além disso, houve redução da concentração no SFN no ano passado, mantendo tendência de redução da concentração vista no período de 2020 a 2022. Segundo os indicadores do Banco Central, a queda foi observada em todos os agregados contábeis considerados: ativos totais, depósitos totais e operações de crédito.
"A mensagem geral é que há uma tendência de desconcentração generalizada, não importa a medida e não importa o agregado", disse Renato Gomes, diretor de organização do sistema financeiro e de resolução do BC, na entrevista coletiva para comentar o relatório.
Ele sublinhou que, quanto menor a concentração das plataformas financeiras, melhor tende ser o produto oferecido ao cliente final.
O Banco Central disse ainda que, por meio de sua agenda estratégica, denominada Agenda BC#, "busca promover aprimoramentos no SFN com vistas à democratização financeira, serviços financeiros melhores e cada vez mais inclusivo", disse a instituição no relatório. A Agenda BC# está organizada em cinco dimensões temáticas: inclusão, competitividade, transparência, educação e sustentabilidade.
Nesse sentido, Gomes disse na coletiva de imprensa que a autarquia quer desenvolver medidas para reduzir as taxas cobradas pelos cartões de crédito, com iniciativas que podem envolver um disciplinamento da emissão de cartões e estímulos ao uso mais racional do produto pelos consumidores.
(Edição de Camila Moreira e Isabel Versiani)