Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central manteve o ritmo de aperto monetário e elevou a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira, para 13,75 por cento ao ano, levando a Selic ao mesmo patamar de dezembro de 2008, em meio a um cenário de inflação persistentemente alta e queda na atividade econômica.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) foi unânime e em linha com a expectativa de economistas ouvidos em pesquisa Reuters e do mercado de juros futuros.
O BC repetiu o comunicado da reunião anterior, ao dizer que decisão foi tomada "avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação".
Para economistas, ao repetir o comunicado, o BC deixou a porta aberta para uma nova elevação dos juros.
"Isso significa que o ciclo continua e a minha expectativa é de (uma alta de) 25 (pontos básicos) na reunião de julho. Óbvio que vai depender do que acontecer com a expectativa de inflação em 12 meses até chegar lá. Se melhorar, deve haver outra (alta) de 25 e encerra o ciclo", disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima.
A equipe de economistas do Credit Suiss aposta que os juros subirão ainda mais, para 14,25 por cento, em julho.
Mesmo reconhecendo que o Copom, ao repetir o comunicado, pode ter sinalizado que os juros continuarão subindo, alguns economistas, contudo, acreditam que a economia fraca levará o BC a encerrar o ciclo de aperto.
"Acreditamos que a atividade em queda deve convencer o Copom a interromper o ciclo depois da alta de hoje", disse o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn. "Entendemos que o Copom concluirá que a Selic no patamar atual, de 13,75 por cento, já é suficiente para promover uma desinflação importante em 2016."
O mercado já vinha se preparando para um ajuste dessa magnitude, a quinta alta seguida de 0,5 ponto percentual, após autoridades do BC repetirem em diversas ocasiões que os avanços no combate à inflação ainda se mostravam insuficientes, e que o objetivo da política monetária é levar a inflação para a meta de 4,5 por cento no fim do próximo ano.
O BC iniciou o ciclo de aperto monetário em outubro, logo após as eleições presidenciais, elevando inicialmente a Selic em 0,25 ponto percentual, a 11,25 por cento ao ano.
Em todas as reuniões do Copom subsequentes o aumento foi de 0,50 ponto percentual, mas a inflação segue ao redor de 8 por cento em 12 meses, apesar do esfriamento da economia.
"A minha interpretação é que o BC já poderia ter parado de subir juros. Ele está querendo resgatar a credibilidade com o mercado... Para mim, se o BC não houvesse sinalizado uma alta de 0,50 p.p. e parasse de subir juros hoje, não seria visto como leniente pelo mercado", disse o diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello.
Após ver sua credibilidade ser colocada em xeque quando decidiu reduzir os juros em 2011 e 2012 a níveis recordes, mesmo diante de pressões inflacionárias, o BC vem reforçando seu comprometimento com a ancoragem das expectativas no centro da meta.
"É a decisão certa e mais um passo para reconstruir a credibilidade da política e reforçar o quadro de inflação como âncora da economia", disse o economista sênior do Goldman Sachs, Alberto Ramos, após o anúncio do Copom.
"No entanto, a tarefa de Banco Central ainda não acabou. Estamos chegando relativamente perto do final do ciclo, mas a taxa de câmbio e a atividade irão determinar se precisamos de uma ou duas mais altas neste processo", disse o economista.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tem repetido que o BC vai permanecer vigilante para assegurar que a inflação caminhe para a meta de 4,5 por cento ao fim de 2016.
Por ora, economistas de instituições financeiras seguem enxergando a inflação em 5,5 por cento no fim de 2016, um ponto percentual acima do objetivo do BC, deixando margem para o aperto monetário seguir em frente apesar de alguns especialistas já alertarem que um ajuste tão duro pode trazer danos desnecessários à atividade.
A alta dos juros, que encarece o custo dos empréstimos no país, ocorre em um momento de enfraquecimento da atividade econômica. No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) teve retração de 0,2 por cento sobre os três meses anteriores, com o consumo das famílias recuando 1,5 por cento na mesma base, o maior declínio desde o último trimestre de 2008, período de crise global.
(Reportagem adicional de Walter Brandimarte e Bruno Federowski, em São Paulo, e Alonso Soto, em Brasília) 2015-06-04T005610Z_1006880001_LYNXMPEB5300P_RTROPTP_1_NEGOCIOS-BACEN-COPOM-SELIC.JPG