Investing.com - O Banco Central reduziu a taxa básica de juros do país para 6,5%, em votação unânime. O corte de 0,25 p.p. era amplamente aguardado pelo mercado após dados surpreendentemente fracos de inflação de janeiro e fevereiro.
O comunicado após a decisão mostra que o Banco Central deverá seguir cortando as taxas de juros em um movimento iniciado em 2016. Para a próxima reunião, o Copom deixou claro que a Selic deverá ser novamente reduzida:
"Comitê vê, neste momento, como apropriada uma flexibilização monetária moderada adicional"
Segundo a visão do Copom hoje, a reunião de maio deverá ser a última do ciclo de cortes com uma possível redução da Selic para 6,25%.
Para reuniões além da próxima, (...) o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária
O BC diz que ainda há risco para a inflação seguir caindo por mecanismos inerciais do mercado. Esse cenário abriria a possibilidade de que os juros possam ser reduzidos ainda mais no futuro.
Por outro lado, o banco diz que a frustração com as reformas e uma possível reversão no cenário internacional positivos para os emergentes podem elevar a expectativa de inflação futura e pressionar os juros do país.
Ciclo de cortes
A decisão de hoje foi a 12ª do atual ciclo de cortes, iniciado em outubro de 2016 quando a taxa básica era de 14,25%. Ao todo, o Copom cortou 7,75 p.p. da Selic, acompanhando o surpreendente processo de desinflação da economia nos últimos dois anos.
O corte é compatível com a ata da última reunião, quando o BC disse que “a continuidade do ambiente com inflação subjacente em níveis confortáveis ou baixos, com intensificação do risco de sua propagação, abriria espaço para essa flexibilização adicional”. Desde o encontro dos diretores, foram publicados os números do IPCA de janeiro, em 2,86%, e de fevereiro, 2,84%, ambos no acumulado em 12 meses. Os valores seguem abaixo do piso de 3% – 1,5 p.p. da meta anual de 4,5% – e o boletim Focus mostra que o mercado projeta a inflação bem inferior à meta no final do ano.
Recorde mínimo
A taxa de juros de 6,5% é a menor da série histórica iniciada com a adoção do tripé econômico em 1999. Antes do atual ciclo de baixa, o recorde anterior de 7,5% havia sido alcançado em outubro de 2012, quando o BC, na época comandado por Alexandre Tombini, sofreu pressão política para seguir cortando juros, apesar da tendência desfavorável da inflação oficial, pressionada pelo consumo e, a seguir, pelos reajustes após anos de repressão dos preços controlados, a seca que pressionou o preço de energia elétrica e provocou quebra de safras.
Neste período de metas de inflação, a Selic chegou ao seu ponto máximo de 26,5% ao ano entre fevereiro e maio de 2003, como consequência da forte inflação. Na época, o IPCA disparou pressionado pela desvalorização do real frente ao dólar, com investidores reagindo à eleição de Lula à presidência da República.
Desde o início do Plano Real, contudo, a Selic chegou aos 45% em março de 1999, em uma tentativa quase desesperada do governo Fernando Henrique Cardoso de manter a entrada de dólar no Brasil, enquanto o país migrava do câmbio fixo para o atual câmbio flutuante, em meio às crises russa e asiática do fim dos anos 1990.