Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central melhorou nesta segunda-feira sua projeção para o déficit em transações correntes do Brasil em 2015 para 81 bilhões de dólares, mas o rombo, que vem sendo beneficiado pelo enfraquecimento econômico e pela dinâmica cambial, ainda não será coberto pelos investimentos diretos vindos de fora.
Até então, o BC via que o saldo negativo na conta corrente do país ficaria em 84 bilhões de dólares, e passou a enxergar agora menos saídas líquidas na conta de serviços e remessas mais modestas de lucros e dividendos.
Somente com gastos líquidos com viagens no exterior, o BC passou a ver saldo negativo de 14,5 bilhões de dólares neste ano, contra 16 bilhões de dólares esperados até então e 18,7 bilhões de dólares no ano passado.
Para remessas de lucros e dividendos de multinacionais instaladas no país, as contas são de 21 bilhões de dólares neste ano, 1,5 bilhão a menos do que a previsão passada e num recuo expressivo ante os 31,2 bilhões de dólares de 2014.
Ao mesmo tempo, o BC manteve suas contas sobre os Investimentos Diretos no País (IDP) --nova denominação para Investimentos Estrangeiros Diretos (IED)-- para o ano em 80 bilhões de dólares.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, a mudança nas projeções ressalta uma tônica já observada nos cinco primeiros meses de 2015 e que deve se manter no restante do ano.
O déficit em transações correntes chegou a 35,8 bilhões de dólares de janeiro a maio, abaixo do resultado negativo em 44,9 bilhões de dólares de igual etapa de 2014.
"Isso reflete o ajuste macroeconômico em curso, em especial, no caso das transações correntes, a desvalorização da taxa de câmbio", apontou Maciel, ressaltando que, se de um lado o aumento do dólar desestimula as viagens para fora, de outro ele torna os resultados obtidos em reais por multinacionais menores quando convertidos para dólares.
O resultado das contas externas é fruto da diferença entre o que o Brasil desembolsou e o que recebeu em transações internacionais, como balança comercial, serviços e rendas. Com o dólar mais caro --com valorização de 5,78 por cento sobre o real em maio-- e o esfriamento da economia, caem os gastos de brasileiros fora e a remessa de lucros para outros países.
Maciel também chamou a atenção para o impacto do menor crescimento da economia nessas duas frentes, afetando o apelo ao consumo e os lucros auferidos pelas companhias no país.
Economistas de instituições financeiras pioraram suas estimativas para inflação e juros em 2015, também passando a ver contração mais acentuada do Produto Interno Bruto (PIB) no ano, de 1,45 por cento.
Reagindo a esse cenário, em 12 meses, o rombo nas contas externas do Brasil soma 95,717 bilhões de dólares, correspondente a 4,39 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), contra 4,53 por cento visto nos 12 meses até abril.
MAIO
Somente em maio, o déficit em transações correntes do país somou 3,366 bilhões de dólares, ante 7,874 bilhões de dólares no mesmo período de 2014.
O saldo negativo em conta corrente veio melhor que o déficit de 5,4 bilhões de dólares projetado pelo BC para o mês passado, também melhor do que a projeção em pesquisa Reuters de déficit de 4,7 bilhões de dólares.
A linha de serviços seguiu exercendo a maior influência sobre o déficit em transações correntes em maio, ficando negativa em 3,4 bilhões de dólares. Um ano antes, o déficit em serviços havia sido de 4,4 bilhões de dólares.
A redução foi afetada pelo recuo na conta de viagens, negativa em 998 milhões de dólares, queda de 42,4 por cento na comparação anual.
Também refletindo o ambiente de fraqueza econômica e do real, a conta líquida de remessa de lucros e dividendos ficou negativa em 1,946 bilhão de dólares em maio, queda de 41,0 por cento sobre maio de 2014.
Na contramão, o resultado da balança comercial ficou positivo em 2,552 bilhões de dólares em maio, muito superior ao superávit de 543 milhões de dólares um ano antes, mas embalado sobretudo pela queda maior nas importações.
Já o IDP somou 6,608 bilhões de dólares, acima dos 4,2 bilhões de dólares estimados por analistas em pesquisa Reuters.
(Reportagem adicional de Alonso Soto)