Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação oficial brasileira subiu bem menos do que o esperado em janeiro diante da queda nos preços da energia elétrica e teve o resultado mais baixo para o mês em mais de duas décadas, acedendo o sinal amarelo sobre o fim do ciclo de corte de juros indicado pelo Banco Central.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,29 por cento em janeiro depois de ter subido 0,44 por cento em dezembro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira .
A leitura, a mais fraca para janeiro desde a criação do Plano Real em 1994 ficou abaixo até mesmo da menor projeção em pesquisa da Reuters, que apontava avanço de 0,41 por cento em janeiro sobre o mês anterior.
Com isso, o índice passou a acumular em 12 meses alta de 2,86 por cento, sobre 2,95 por cento em dezembro, indo mais abaixodo piso do meta de 4,5 por cento com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
O resultado também ficou abaixo da expectativa de avanço de 2,98 por cento no acumulado em 12 meses no levantamento da Reuters.
O IBGE apontou que a principal pressão de baixa no resultado do mês foi exercida pela queda de 4,73 por cento nas contas de energia elétrica, devido ao fim da cobrança da bandeira vermelha que vigorou em dezembro. A bandeira verde também já foi estabelecida para fevereiro.
"Com a (manutenção da) bandeira verde em fevereiro, em tese a energia não vai pressionar", explicou o economista do IBGE Fernando Gonçalves.
Isso levou à deflação de 0,85 por cento do grupo Habitação, depois de queda de 0,40 por cento em dezembro. O outro grupo que registrou queda nos preços foi Vestuário, de 0,98 por cento, ante alta de 0,84 por cento antes.
A energia elétrica compensou a inflação de alimentos, que vem ganhando força após meses de queda de preços. Em janeiro, o grupo Alimentação e Bebidas acelerou a alta a 0,74 por cento, sobre 0,54 por cento.
A maior alta de preços foi registrada por Transportes, de 1,10 por cento, ainda que desacelerando sobre 1,23 por cento de dezembro, por conta do aumento de 2,58 por cento dos preços dos combustíveis.
Na noite passada, o BC cortou a taxa básica de juros Selic em 0,25 ponto percentual, a 6,75 por cento, e indicou o fim do afrouxamento monetário já em março devido à recuperação da atividade econômica "consistente".
Entretanto, alertou que essa visão pode mudar se houver mudanças na evolução do cenário básico e do balanço de riscos.
"Se o cenário seguir conforme esperado, o BC não vai fazer outro corte. Mas ele não quis trancar a porta porque ainda há indícios de recuperação frágil e a inflação está rodando muito baixa, e pode haver surpresa adicional", afirmou o economista-sênior do Banco Haitong, Flávio Serrano.
(Reportagem adicional de Claudia Violante)