BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil teve o pior resultado primário para meses de agosto, ficando ainda mais distante de cumprir a meta fiscal deste ano em meio a um cenário de fraca atividade econômica, receitas em queda e despesas em alta.
O setor público consolidado --governo central, Estados, municípios e estatais-- registrou déficit primário de 14,46 bilhões de reais no mês passado, pior desempenho para agosto, acumulando no ano saldo positivo de apenas 10,250 bilhões de reais, ou cerca de 10 por cento da meta para 2014, informou o Banco Central nesta terça-feira.
Em 12 meses até agosto, a economia feita para pagamento de juros foi equivalente a 0,94 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). A meta já ajustada neste ano de superávit primário (a economia feito pelo governo para o pagamento de juros da dívida pública) é de 99 bilhões de reais, ou 1,9 por cento do PIB.
A expectativa de analistas consultados pela Reuters era de que haveria déficit primário de 5,1 bilhões de reais em agosto, quarto resultado mensal negativo seguido.
O mau resultado de agosto veio sobretudo do governo central, com déficit primário de 11,951 bilhões de reais, muito acima do saldo negativo de 55 milhões de reais visto um ano antes. Os governo regionais tiveram rombo de 2,337 bilhões de reais no mês passado, enquanto que as estatais, de 173 milhões de reais.
Com os dados de agosto, o déficit nominal --receitas menos despesas, incluindo pagamento de juro-- ficou em 31,476 bilhões de reais no mês passado, enquanto a dívida pública representou 35,9 por cento do PIB, acima dos 35,5 por cento estimados em pesquisa da Reuters.
Recentemente, o governo anunciou mais manobras fiscais para tentar chegar à meta de superávit primário --estratégia que vem adotando há alguns anos e que acabou minando a confiança de agentes econômicos--, com a possibilidade saque de 3,5 bilhões de reais do Fundo Soberano do Brasil (FSB) para reforçar o caixa do Tesouro Nacional.
Na segunda-feira, o próprio BC reconheceu que a política fiscal neste ano não é neutra, e que acabou pressionado a inflação.
Em agosto, os cofres públicos foram beneficiados com a entrada de receitas extraordinárias com o programa de refinanciamento de dívidas tributárias (Refis), de 7,13 bilhões de reais, mas que não foram suficientes para evitar que a Receita Federal cortasse pela metade a previsão de crescimento real da arrecadação neste ano, para alta de apenas 1 por cento.
(Por Patrícia Duarte e Alonso Soto; Reportagem adicional de Silvio Cascione)