BRASÍLIA (Reuters) - O setor público consolidado brasileiro registrou déficit primário de 17,414 bilhões de reais em fevereiro, dentro do esperado e no melhor resultado para o mês desde 2015, reflexo da melhoria da arrecadação e que mantém o rumo para o cumprimento da meta fiscal.
Em pesquisa Reuters, a expectativa era de déficit primário de 17,8 bilhões de reais em fevereiro.
"Você teve uma recessão muito grande e prolongada, que piorou os resultados fiscais de uma forma significativa, e agora você está tendo uma recuperação de resultados", afirmou o chefe do departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha.
No mês, divulgou o BC nesta quarta-feira, o resultado primário do governo central (governo federal, BC e Previdência) ficou negativo em 19,005 bilhões de reais, menor que o rombo de 28,769 bilhões de reais de igual período do ano passado, e beneficiado pela melhor arrecadação com a recuperação da economia. Os governos regionais (Estados e municípios), por sua vez, tiveram superávit de 2,030 bilhões de reais em fevereiro, enquanto as empresas estatais tiveram déficit de 438 milhões de reais. No primeiro bimestre, no entanto, a economia feita para pagamento de juros da dívida continuou positiva, em 29,527 bilhões de reais, ante dado positivo em 13,244 bilhões de reais em igual etapa de 2017. Em janeiro passado, o país registrou forte superávit primário de 46,940 bilhões de reais. Em 12 meses, o déficit do setor público consolidado foi a 94,3 bilhões de reais no mês passado, equivalente a 1,43 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2018, a meta é de rombo de 161,3 bilhões de reais. Este será o quinto resultado consecutivo no vermelho do país, trajetória que tem impactado diretamente a evolução da dívida. Em fevereiro, a dívida líquida subiu a 52 por cento do PIB, exatamente no patamar projetado por analistas consultados pela Reuters, contra 51,8 por cento em janeiro. Ao mesmo tempo, a dívida bruta alcançou 75,1 por cento do PIB, acima da expectativa de 74,7 por cento e do nível de 74,5 por cento cravado em janeiro.
"Os resultados fiscais de fevereiro mostraram uma melhora, mas ainda olhando o que se tem para o ano, nós ainda teremos um novo ano de déficit primário. E uma trajetória fiscal que caminhe para redução de níveis de endividamento ainda precisa de resultados fiscais significativos ... ainda falta um certo caminho para chegar lá", disse Rocha.
FIM DAS PROJEÇÕES FISCAIS
A partir deste mês, o BC decidiu não mais divulgar projeções para a dívida, o que fazia anteriormente tanto para o mês seguinte quanto para o ano -- estas últimas a cada trimestre.
Segundo Rocha, esses exercícios feitos outrora eram "mecânicos e geravam mais ruídos do que a própria explicação deles". Para as contas, o BC considerava dados do Focus para variáveis como Selic, índices de preços e câmbio, além da meta estabelecida pelo governo para o primário.
"Parecia que o BC tinha hipótese de resultado primário e não tinha", justificou Rocha.
Na última estimativa, feita em dezembro, o BC previu que a dívida bruta brasileira chegaria a 78 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018, já considerando para tanto o pagamento antecipado feito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao Tesouro Nacional, em atendimento a pedido do governo.
(Por Marcela Ayres)