Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -O número de trabalhadores ocupados no Brasil atingu um recorde de mais de 100 milhões no trimestre até outubro, levando a taxa de desemprego a cair a 7,6% e bater o menor nível desde o início de 2015, com aumento da renda.
Em um mercado de trabalho que segue resiliente no país, o resultado mostrou queda frente aos três meses imediatamente anteriores, até julho, quando a taxa havia ficado em 7,9%, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A leitura da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) nesta quinta-feira também mostrou recuo ante os 8,3% vistos no mesmo período do ano anterior, marcando a menor taxa de desocupação desde o trimestre encerrado em fevereiro de 2015, quando ficou em 7,5%.
O resultado ainda ficou um pouco abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de uma taxa de 7,7%.
"Temos um aumento não só quantitativo no mercado de trabalho, mas também qualitativo, puxado pela formalidade e ampliação da renda", destacou a coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, Adriana Beringuy.
"O momento do mercado é de crescimento sustentado de aumento de trabalhadores, é algo sólido. Estamos diante de um cenário de recuperação da economia, e isso aparece no mercado de trabalho inevitavelmente", completou.
Depois de um primeiro semestre de atividade econômica melhor do que o esperado, o mercado de trabalho brasileiro mostrou-se aquecido e a taxa de desemprego permanece em patamares baixos. Embora ela ainda possa registrar alta diante da esperada desaceleração da atividade econômica e dos efeitos defasados da política monetária restritiva, não é esperado um salto significativo.
"Olhando à frente, entendemos que os efeitos defasados da política monetária contribuirão para uma desaceleração da atividade econômica e um consequente aumento da taxa de desemprego, que ainda resistirá em patamares historicamente baixos por mais um bom tempo", avaliou o PicPay em nota.
No trimestre até outubro, o total de ocupados no país chegou a 100,206 milhões, o maior contingente desde o início da série histórica, no primeiro trimestre de 2012. Houve aumento de 0,9% na comparação com os três meses até julho e de 0,5% sobre o mesmo período do ano anterior.
Já o número de desempregados caiu 3,1% sobre o trimestre imediatamente anterior, a 8,259 milhões de pessoas, marcando ainda uma queda de 8,5% na base anual.
Os trabalhadores com carteira assinada no setor privado aumentaram 1,7% nos três meses até outubro sobre o período anterior, indo a 37,615 milhões, maior número desde o trimestre encerrado em junho de 2014. Os que não tinham carteira cresceram 0,7%.
Entre as atividades pesquisadas, o destaque foi o aumento de 3,2% no número de pessoas empregadas em Transporte, armazenagem e correio.
“As atividades, de modo geral, retiveram trabalhadores. Parte do aumento da carteira assinada recorde vem dessa segmento (transporte, armazenagem e correio), que tem bom cobertura de formalidade. Então ajuda na abertura de vagas e na formalização", disse Beringuy.
No período, ainda houve aumento da renda média real habitual, que chegou a 2.999 reais no trimestre até outubro, em comparação com 2.950 reais nos três meses até julho e 2.888 reais no mesmo período de 2022.
Segundo Beringuy, isso deriva da expansão dos ocupados com carteira assinada, que normalmente têm rendimentos maiores. “Ou seja, a leitura que podemos fazer é que há um ganho quantitativo, com um aumento da população ocupada, e qualitativo, com o aumento do rendimento médio", disse ela.
Esse ganho, no entanto, chama a atenção de analistas no que concerne a inflação.
"O aumento do rendimento sem elevação da produtividade é um fator de preocupação, pois significa maior pressão na inflação de serviços", alertou Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
(Edição de Luana Maria Benedito)