Por Luciana Otoni
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil abriu 11.796 vagas formais de trabalho em julho, no pior resultado para o mês em 15 anos, influenciado por demissões na indústria e pelo encolhimento das contratações na agricultura e no setor serviços, em um sinal perda de fôlego do mercado de trabalho em meio a fraqueza econômica.
Apesar de ter sido o pior resultado para julho desde 1999 e o pior do ano, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho nesta quinta-feira, o dado veio melhor do que a mediana das expectativas de analistas ouvidos pela Reuters, de abertura de 7 mil postos. Em junho, haviam sido criados 25.363 postos com carteira assinada, de acordo com dados sem ajustes.
No acumulado do ano até julho, a contratação líquida de trabalhadores com carteira assinada recuou 28 por cento para 504.914 vagas no dado sem ajuste, ante 699.036 contratados em igual período do ano passado. Na série ajustada, que incorpora as informações declaradas fora do prazo, a criação de emprego caiu 30 por cento para 632.224 vagas até julho, ante 907.214 no mesmo período do ano passado.
O mercado de trabalho, uma das principais bandeiras da campanha para a reeleição da presidente Dilma Rousseff, vem mostrando sinais de exaustão diante da economia fraca.
"O mercado de trabalho responde com grande defasagem à desaceleração econômica e o que se vê agora é o desaquecimento na oferta de vagas", disse a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara.
A economia vem dando sinais claros de perda de fôlego, aumentando as chances de o país ter entrado em recessão técnica --quando há dois trimestres seguidos de contração da atividade-- no primeiro semestre.
Pesquisa Focus do Banco Central com economistas de instituições financeiras mostra que, pela mediana, as expectativas são de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá apenas 0,79 por cento neste ano, bem abaixo dos 2,5 por cento vistos em 2013.
"O ajuste no mercado de trabalho está apenas no começo e o que veremos será um novo patamar na criação de vagas", disse Thaís Zara.
JULHO
O resultado de julho foi influenciado sobretudo pela demissão líquida pela indústria de transformação de 15.392 trabalhadores, no quarto mês consecutivo de fechamento de vagas, segundo o Caged. O resultado da indústria, contudo, apresentou melhora em relação a junho, quando foram eliminadas 28.553 vagas. Por nicho de atividade, as indústrias que mais demitiram em julho, em termos absolutos, foram as de material de transporte e a metalúrgica.
A forte queda nas contratações na agricultura e no setor serviços também pesou. Na agricultura, a oferta de vagas em julho foi de 9.953, com queda de 75,6 por cento frente às 40.818 admissões em junho. No setor de serviços, foram abertos 11.894 postos com carteira assinada em julho, 62 por cento a menos do que no mês anterior, quando o saldo foi positivo em 31.143 vagas, sem ajustes.
"Tivemos a partir de abril desaceleração do setor industrial, que levou à redução das contratações e aumento das demissões nesse setor", disse o ministro do Trabalho, Manoel Dias.
Com a menor oferta de postos este ano, o Ministério do Trabalho reduziu no mês passado para 1 milhão a previsão de geração líquidas de vagas formais neste ano, ante estimativa anterior entre 1,4 milhão e 1,5 milhão de empregos.
Segundo o ministro, os números de julho vieram piores também pela Copa do Mundo, quando foi decretado feriado em várias cidades e houve paralisação de negócios, com efeito negativo nas contratações.
Manoel Dias disse esperar que em agosto e setembro os resultados do emprego melhorem por contratações motivadas pelos negócios de fim de ano.