Por Luana Maria Benedito e Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira que tem observado uma desaceleração grande na inflação brasileira, mas que o núcleo dos preços ainda segue muito alto e as expectativas de alta dos preços permanecem elevadas.
"A gente vê uma desaceleração da inflação grande, o núcleo tem desacelerado, mas está em 7,3%, que é um número bastante alto, muito alto, muito acima da meta", disse Campos Neto durante seminário da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em parceria com o jornal Folha de S.Paulo, na capital paulista.
"A gente tem esse problema das expectativas de inflação longas, que colaram ali no 4(%), e estão bastante persistentes", acrescentou ele, atribuindo esse cenário a incertezas sobre qual será a nova meta de inflação do Brasil, preocupações fiscais que já estão sendo "endereçadas" e ruídos entre o governo e o BC, que, segundo Campos Neto, minam a credibilidade da autoridade monetária.
O relatório Focus, do BC, apontou nesta segunda-feira uma redução expressiva da projeção do mercado para o IPCA este ano, com a mediana das estimativas caindo de 6,03% há uma semana para 5,80%, em movimento que Campos Neto atribuiu à mudança recente da política de preços da Petrobras (BVMF:PETR4), que levou a uma redução dos preços dos combustíveis. A projeção para 2024, no entanto, sofreu pouca alteração, recuando de 4,15% para 4,13%.
No evento, Campos Neto afirmou ainda que não é verdade que o Brasil nunca atinge suas metas de inflação, em meio a debate no governo sobre possivelmente alterar o calendário para cumprimento dos objetivos, e, embora tenha defendido "harmonia" entre as políticas fiscal e monetária, ressalvou que são duas esferas que têm "tempos diferentes".
"Nem sempre eles têm o mesmo ciclo... O tempo de efeito é diferente, por muitas vezes é importante a gente (Banco Central) comunicar e olhar muito mais à frente... O fiscal tem efeito muito mais imediato", argumentou.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, há tempos tem pedido "harmonização entre fiscal e monetário", à medida que ele e outros membros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionam o BC por redução na taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, em meio a esforços para aprovar um novo arcabouço para as contas públicas.
Para Campos Neto, o arcabouço eliminou completamente o risco de a dívida pública simplesmente sair de controle, ainda que haja uma preocupação da dinâmica entre receitas e despesas.
"Acho que o ministro Haddad trabalhou muito duro, em um ambiente em que até membros do governo foram contra, pelo menos é a percepção que passa para quem está de fora", disse Campos Neto, reiterando que o efeito das regras fiscais sobre o canal de expectativas dos agentes econômicos é que abre espaço para o BC atuar.
APELO POR REDUÇÃO DA SELIC
Em fala no mesmo evento, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também elogiou a proposta de novo marco fiscal, que deve ser votada na Câmara dos Deputados na quarta-feira e depois ser analisada pelos senadores.
"É um regime fiscal que considero que foi o possível de ser feito. É o melhor possível que poderia ter sido feito neste momento", afirmou Pacheco no seminário.
O presidente do Senado também fez um "apelo" para que o país e suas instituições encontrem caminhos para a redução gradual da taxa básica de juros e disse que no atual patamar, de 13,75%, ela é "inibidora" do programa de governo de Lula.
"O que temos de buscar... é de fato fazer um apelo para que a nação brasileira e suas instituições encontrem o caminho possível, o mais rapidamente possível, para a redução da taxa básica de juros de forma gradativa, sem movimentos bruscos", disse.
Pacheco avaliou ainda que existem "argumentos, elementos e fundamentos" para o início da redução dos juros pelo Banco Central, ao mesmo tempo que elogiou a atuação da autoridade monetária em 2022, embora tenha pontuado que o momento agora é outro.
"Hoje nós temos um ambiente, na minha concepção, propício para uma redução gradativa da taxa de juros, e eu espero muito que o Banco Central tenha essa compreensão do momento de 2023, que estamos vivendo, que é diferente do momento de 2022", disse.