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Brasil, UE e México podem lucrar com guerra comercial entre EUA e China

Publicado 04.02.2019, 17:12
Atualizado 04.02.2019, 19:19
© Reuters.  Brasil, UE e México podem lucrar com guerra comercial entre EUA e China

Genebra, 4 fev (EFE).- Terceiras partes, entre elas Brasil, México e União Europeia (UE), lucrarão se a guerra comercial entre China e Estados Unidos se aguçar, o que ocorrerá caso ambos países não alcancem um acordo que evite uma nova escalada tarifária a partir do próximo dia 1º de março.

Segundo a economista da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Pamela Coke-Hamilton, "os efeitos das medidas de represália comercial impostas pelos Estados Unidos (contra a China) não resultarão no aumento da sua produção interna, mas desviará o comércio a terceiros países".

Pequim e Washington mantêm negociações com as quais tentam evitar um aumento cruzado de tarifas de 25%, após a alta de 10% que os Estados Unidos impuseram a importações chinesas no valor de US$ 200 bilhões, ao que a China respondeu com uma medida similar que afetou exportações americanas em um total de US$ 60 bilhões.

Essas tarifas adicionais se somavam a outros impostos do início de 2018 e que cobriam US$ 50 bilhões de exportações de cada um.

Na apresentação de um relatório da UNCTAD sobre estatísticas e tendências comerciais, Coke-Hamilton sustentou que, se o temido aumento de 25% de tarifas adicionais acontecer, "não será efetivo para aumentar a produção nos Estados Unidos".

O que provocará, por outro lado, é que os exportadores do resto do mundo se tornarão mais competitivos.

A UNCTAD calcula que, do que for perdido por exportadores chineses e americanos, "a União Europeia reterá US$ 70 bilhões", e Japão e Canadá, US$ 20 bilhões cada um.

"O México capturará quase US$ 27 bilhões do comércio entre EUA e China, o que representa 6% das suas exportações", acrescentou a especialista.

Dos US$ 250 bilhões de exportações chinesas que seriam afetadas se a alta de 25% de tarifas se concretizasse, os analistas calculam que 82% seria substituído por companhias de outros países, enquanto as empresas chinesas reteriam 12% e apenas 6% beneficiaria produtores dos EUA.

O caso das tarifas adicionais impostas à soja procedente dos EUA é ilustrativo do efeito de distorção da medida, com o Brasil como o principal beneficiado por ter se transformado, graças a esta decisão, no principal abastecedor deste produto para o mercado chinês.

No entanto, esta vantagem pode ser temporária e o seu alcance pode mudar, o que os produtores e investidores no Brasil parecem saber muito bem.

"Os produtores brasileiros não quiseram tomar decisões de investimento que não resultariam rentáveis se as tarifas forem revogadas", explicou Coke-Hamilton.

Além disso, existem as vítimas colaterais, que no caso do Brasil são setores que utilizam a soja como insumo, como o agropecuário, e que perderão competitividade pelo aumento do seu preço, devido à demanda chinesa.

Além de lucros para determinados países e setores, a UNCTAD antecipou que os efeitos macroeconômicos de um agravamento da guerra comercial chinesa-americana serão muito negativos.

Nesse caso, sustentou os mercados financeiros e de matérias-primas cairão e surgirão fortes tensões nos mercados de divisas.

"Além disso, haverá mais pressão sobre o crescimento mundial porque as companhias terão que fazer ajustes de custos que afetarão a produção, os investimentos e a rentabilidade", destacou Coke-Hamilton.

Para os países pobres e menores, a situação será mais difícil devido à sua pouca capacidade para suportar uma forte desaceleração da economia mundial.

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