Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - A calibragem da política monetária no Brasil dependerá da extensão de choques sobre a inflação, disse nesta quinta-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, citando que problemas causados pelo conflito na Ucrânia trazem desafio adicional.
Em evento da Legend Investimentos, Campos Neto afirmou que mesmo que a guerra no leste europeu termine em prazo curto o mundo terá, por tempo maior, cicatrizes causadas por uma redivisão das cadeias globais de valor, além de uma divisão entre países democráticos e outras nações.
"Olhando a parte longa da curva e as expectativas de inflação mais longa, existe um certo consenso de que estamos no caminho certo. A calibragem sempre depende da extensão do choque, temos falado bastante sobre isso nas últimas reuniões do Copom", disse.
Para o próximo encontro do colegiado, em maio, está previsto um aumento de 1 ponto percentual na Selic, que atingiria 12,75% ao ano, possivelmente encerrando o ciclo de aperto monetário. Esse plano poderá ser repensado, com ajuste adicional, em caso de novos choques, como indicou Campos Neto anteriormente.
De acordo com o presidente do BC, a inflação está "descolando muito" da meta, com subida dos núcleos (que desconsideram componentes voláteis) e grande disseminação.
"A gente tem se preocupado em ser proativo em relação a isso, passar mensagem de que o Banco Central tem os instrumentos", afirmou.
Campos Neto ponderou que, apesar de alto, o núcleo da inflação brasileira está "um pouco mais comportado". Ele disse ainda que, após o problema da energia ter se agravado no Brasil com a crise hídrica e efeitos da guerra, a situação agora parece melhor, inclusive com o anúncio do fim da taxa extra nas contas de energia elétrica.
Para ele, o novo cenário mundial pode ser uma oportunidade para o Brasil se inserir nas cadeias globais de valor e nos mercados de energia.
Diante do recente movimento de valorização do real, Campos Neto disse que o movimento cambial no Brasil foi influenciado por uma reação rápida da política monetária à elevação de preços, uma surpresa fiscal positiva no curto prazo, ganhos com o comércio de commodities e investimentos em empresas.
MERCADO COMPORTADO
Ao mencionar a questão eleitoral, o presidente do BC disse haver uma inquietude, mas afirmou que limitações de gastos impostas pela legislação eleitoral fazem com que o tópico fiscal esteja "mais ou menos pré-determinado".
"Em termos da incerteza das eleições, o que a gente vê é que a taxa longa de juros está relativamente comportada, caiu recentemente, as variáveis de volatilidade estão relativamente comportadas", disse.
"Obviamente, sempre pode ter um choque, um desenrolar ao longo do processo das eleições que vai gerar mais incerteza, mas temos visto que de fato está relativamente comportado".
Campos Neto ressaltou que dados recentes indicam que a avaliação do mercado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022, de 0,5%, pode sofrer revisão para cima. A atual projeção do BC é de 1%.
(Por Bernardo Caram)