O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu que não vê um cenário de dominância fiscal - caracterizado pela impossibilidade de elevar juros, devido aos impactos negativos sobre as contas públicas - no Brasil. Ele também negou que a política fiscal do País seja incompatível com uma meta de inflação de 3%.
"O que eu vejo, e eu estou aqui há seis anos, é que por um longo tempo, quando nós anunciávamos a meta de inflação, a inflação esperada convergia rapidamente à meta", ele disse. "Quando anunciamos a mudança de 3,25% para 3%, demorou duas semanas para convergir. Mas o governo mudou e começou a falar de mudar a meta, a desafiar o BC. Então, houve incerteza sobre a meta."
Respondendo a perguntas em um evento do Itaú (BVMF:ITUB4), em Washington, ele disse que esse processo criou um prêmio, em meio a uma deterioração da situação fiscal do governo. Como resultado, as expectativas de inflação não retornaram ao centro da meta, mas se estabilizaram em um nível desancorado, acima de 3%.
Sobre os prêmios de risco relacionados à política fiscal, Campos Neto disse que não é trabalho do BC combater a precificação do mercado. "Nós devemos tentar entender a informação dos preços, e acho que, olhando para a ponta longa, o preço não parece compatível com os fundamentos", afirmou.
Pouco antes, o banqueiro central disse que os resultados primários do Brasil não parecem muito diferentes de outros países emergentes, cujos déficits têm orbitado 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Embora a dívida brasileira comece em um nível já elevado, a trajetória de aumentos esperados também não é fora da curva, disse.