Bogotá, 16 mai (EFE).- O anúncio de um cessar-fogo unilateral por parte das guerrilhas das Farc e do ELN agitou nesta sexta-feira a campanha eleitoral na Colômbia e despertou as mais diversas reações dos candidatos à presidência a nove dias das eleições mais disputadas do país.
O cessar-fogo será vigente entre 20 e 28 de maio para não interferir no primeiro turno das eleições, uma situação que os colombianos não lembram ter vivido nas últimas décadas, nas quais os presidentes foram escolhidos em meio à violência do conflito armado.
O anúncio das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN), feito em Havana, sede das negociações de paz com o governo, dividiu os candidatos presidenciais entre os que o avaliaram positivamente e os que acham que se trata de uma manobra dos rebeldes.
O mais crítico foi Óscar Iván Zuluaga, candidato do movimento uribista Centro Democrático, que assegurou em um debate com outros candidatos em Bogotá que "o que o país precisa é de fatos reais para avançar em uma paz negociada, não algo por estratégia política".
Zuluaga, que está tecnicamente empatado com o presidente e também candidato, Juan Manuel Santos, no primeiro lugar das pesquisas de intenção de voto, afirmou que a segurança das eleições não pode depender das Farc ou do ELN, mas sim das Forças Armadas, que "deram e darão todas as garantias para o processo eleitoral".
"Estou disposto a buscar a paz negociada, mas com o cessar de todas as ações criminosas", afirmou Zuluaga sobre sua atuação caso seja eleito presidente.
A candidata do Partido Conservador, Marta Lucía Ramírez, da mesma linha ideológica que Zuluaga, considerou que o anúncio dos dois grupos guerrilheiros é "uma trégua absolutamente oportunista e politiqueira".
"Comemoraria esta iniciativa se fosse uma trégua definitiva e unilateral dois grupos e sobretudo, se houvesse o compromisso de não recrutarem crianças", afirmou.
Já Enrique Peñalosa, candidato da Aliança Verde, qualificou o cessar-fogo como um "gesto positivo" e assegurou que as Farc e o ELN "demonstraram ter o mínimo de interesse em buscar apoio na população colombiana".
Segundo o comunicado lido em Havana pelo negociador das Farc "Pablo Catatumbo", conhecido como de Jorge Torres Victoria, ambas guerrilhas adotaram este cessar-fogo perante o "clamor nacional" dos colombianos para que o clima político eleitoral "se caracterize pela maior ausência de perturbação".
Os rebeldes lembraram ao governo colombiano "a necessidade de convir um cessar-fogo bilateral que fortaleça as conversas de paz rumo a uma efetiva e pronta reconciliação entre os colombianos".
Quanto a isso, Peñalosa afirmou que as Forças Armadas e a polícia "devem combater as guerrilhas para derrotá-las militarmente, como se não existissem acordos em Havana".
Tanto Zuluaga como Peñalosa lembraram que o anúncio da trégua ocorre um dia a morte de dois menores de 12 e 13 anos em uma zona rural de Tumaco, uma cidade portuária sobre o Pacífico, ao serem atingidos por um explosivo lançado contra umas instalações da polícia.
O ataque, que segundo as autoridades foi ordenado pelas Farc, também deixou oito policiais feridos.
Com mais entusiasmo reagiu Clara López, candidata da aliança de esquerda formada pelo Polo Democrático Alternativo (PDA) e a União Patriótica (UP), que inclusive pediu à polícia que também declare um cessar-fogo.
"Este cessar-fogo unilateral, pelo menos por oito dias, permite alguma tranquilidade no processo de eleições e esperamos que haja reciprocidade por parte da polícia", ressaltou Clara.
O presidente Juan Manuel Santos não se manifestou sobre o assunto, mas o novo chefe da campanha governista, o ex-presidente César Gaviria, destacou que a paz é simplesmente "um direito dos colombianos".
"Não acho que seja uma concessão dos senhores das Farc, os colombianos têm direito de votar serenamente e não no meio das balas", disse Gaviria à rádio "RCN".
Resta saber qual será o impacto que o cessar-fogo dos guerrilheiros terá no comportamento do eleitorado colombiano no dia 25 de maio.