O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anuncia hoje (20) à noite sua decisão sobre a taxa básica de juros, a Selic, em um cenário com inflação em alta e encolhimento da economia. A expectativa com o resultado cresceu após nota do presidente do BC, Alexandre Tombini, sobre projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O FMI aumentou a projeção de queda da economia brasileira, este ano, de 1% para 3,5%. Para o fundo, será o segundo ano consecutivo de queda da economia. Para 2015, o FMI projeta uma retração de 3,8%. Em 2017, a expectativa é de estabilidade, com a estimativa de crescimento zero do Produto Interno Bruto (PIB). Em outubro do ano passado, o FMI projetava crescimento de 2,3%, em 2017.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, divulgou nota e disse que as revisões das projeções, feitas pelo fundo, foram significativas e serão consideradas na decisão do Copom.
A nota em dia de reunião do Copom, que começou ontem, gerou polêmica por se incomum o pronunciamento do BC no período que antecede o anúncio da taxa Selic. Para alguns analistas, o BC estaria cedendo a pressões ao indicar que a Selic não vai subir como se esperava. Depois da divulgação da nota de Tombini, analistas que projetavam aumento da Selic em 0,5 ponto percentual mudaram a aposta para 0,25 ponto percentual ou até mesmo estabilidade da taxa básica.
Para o professor de macroeconomia do Ibmec-RJ e economista da Órama Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, Alexandre Espírito Santo, apesar de ser incomum o presidente do BC fazer pronunciamentos no dia de reunião do Copom, a ação de Tombini dá transparência. “É normal o Banco Central não se manifestar no período de silêncio, mas não vejo como algo que possa ferir a credibilidade do Copom. Se ele viu que o mercado estava projetando algo em desacordo com o que efetivamente vai acontecer, ele fez a sinalização”, disse.
Na avaliação do economista, “a situação do Banco Central é extremamente delicada. É a mais complexa que me lembro”, em referência ao atual cenário econômico. “A atividade econômica já está extremamente prejudicada. Estimamos queda [da economia] entre 2% e 2,5%, este ano. Já tem analista falando em 4% [de retração]. Isso não referenda um aumento de taxa de juros”, destacou.
A elevação da taxa Selic afeta a demanda, porque os juros altos encarem o crédito e estimulam a poupança. Quando há redução da Selic, o efeito é o contrário: incentiva produção e consumo, mas alivia o controle da inflação.
Para o economista, a inflação atual não é gerada por excesso de demanda e não faria sentido aumentar os juros para penalizar a economia. Entretanto, o economista acredita que o Copom deve elevar a Selic em 0,25 ponto percentual para o colegiado não ser contraditório relação ao discurso atual, ao dizer que adotará as medidas necessárias para controlar a inflação. “A demanda não está aquecida. Se é pra elevar [a Selic], tem que ser a menor”, disse. Atualmente, a taxa básica está em 14,25% ao ano. O economista projeta que a Selic encerrará 2016 em 15% ao ano. “A probabilidade de não subir é muito baixa”, acrescentou.