Por Balazs Koranyi e Frank Siebelt
FRANKFURT (Reuters) - A perspectiva de inflação da zona do euro não melhorou desde o aumento de juros promovido em julho, disse Isabel Schnabel, membro do Conselho do Banco Central Europeu (BCE), sugerindo que ela é a favor de outro grande incremento nos custos dos empréstimos no próximo mês, mesmo com os riscos de recessão aumentando.
O banco central do bloco monetário de 19 países surpreendeu os investidores com um aumento de 0,50 ponto percentual nos juros no mês passado, temendo que a inflação, agora se aproximando do território de dois dígitos, estivesse em risco de se enraizar.
Esse movimento não foi suficiente para alterar as perspectivas de inflação, no entanto, e mesmo uma recessão por si só não seria suficiente para domar as pressões sobre os preços, disse Schnabel, chefe de operações de mercado do BCE.
"Em julho, decidimos aumentar os juros em 50 pontos-base porque estávamos preocupados com as perspectivas de inflação", disse ela à Reuters em entrevista. "As preocupações que tínhamos em julho não foram aliviadas... Não acho que essa perspectiva tenha mudado fundamentalmente."
Um aumento de taxa em setembro é visto como certo, mas com as autoridades divididas entre ajuste de 0,25 e 0,50 ponto percentual. Os comentários de Schnabel sugerem que ela provavelmente defenderá uma alta maior.
O problema é que, em 8,9%, a inflação já é de mais de quatro vezes a meta de 2% do BCE, e pode subir ainda mais, mesmo com o aumento dos custos de energia minando o poder de compra e mesmo diante do crescimento lento.
"Eu não excluiria que, no curto prazo, a inflação aumente ainda mais", disse Schnabel, formuladora de política monetária conservadora.
"Essas pressões inflacionárias provavelmente permanecerão conosco por algum tempo; elas não desaparecerão rapidamente", disse ela. "Vai levar algum tempo até que a inflação volte a 2%."
Embora a inflação deva desacelerar acentuadamente nos próximos anos, Schnabel notou que as projeções do BCE se mostraram erradas nos últimos trimestres, de forma que os números reais de crescimento dos preços precisam ter maior peso nas decisões de política monetária.
RECESSÃO?
Schnabel reconheceu o risco de recessão na zona do euro, mas disse que há vários sinais sugerindo que as expectativas de inflação podem estar sendo "desancoradas" --jargão de bancos centrais para se referir à perda de confiança na disposição da instituição de cumprir seu mandato.
"Há uma forte indicação de que o crescimento vai desacelerar e eu não descartaria entrarmos em uma recessão técnica, especialmente se o fornecimento de energia da Rússia for interrompido ainda mais", disse Schnabel.
"Os riscos negativos para o crescimento econômico também aumentaram devido a choques adicionais do lado da oferta, causados por secas ou pelos baixos níveis de água nos principais rios", disse ela. "Parece que, dos maiores países da área do euro, a Alemanha é a mais atingida."
Embora uma recessão amorteça as pressões sobre os preços, por si só não será o suficiente para trazer a inflação de volta à meta, disse ela.