Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O BNP Paribas (PA:BNPP) elevou suas expectativas para a alta dos preços ao consumidor do Brasil e mostrou preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação, afirmando que a convergência do IPCA para dentro da faixa de tolerância da meta oficial ficará para 2023.
O credor francês espera que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo mostre alta de 10,2% ao final de 2021 sobre um ano antes e salte 5,5% em dezembro de 2022 na comparação anual, segundo nova projeção trimestral. Anteriormente, o BNP estimava avanços de 9,0% e 4,5%, respectivamente.
Para o encerramento de 2023, a expectativa do banco é de avanço de 3,5% do IPCA em 12 meses.
"Apesar do esforço do Banco Central, a gente acredita que a inflação só volta para a banda próxima da meta em 2023; isso não é história para o ano que vem", disse a jornalistas nesta terça-feira Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do BNP Paribas.
Os centros das metas oficiais de inflação para 2021, 2022 e 2023 são, respectivamente, de 3,75%, 3,5% e 3,25%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Os objetivos tomam como base o IPCA.
Segundo Arruda, as expectativas de inflação desancoradas explicam as projeções de inflação acima da meta do BNP. "O desvio em relação à meta é muito grande, e por isso concordamos com a preocupação do Banco Central com (a desancoragem)", afirmou o especialista. "Isso toma tempo e exige trabalho do Banco Central; exige um BC muito mais reativo."
Em sua última reunião de política monetária, em que elevou a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, o Banco Central mostrou-se mais preocupado com a desancoragem das expectativas de inflação. A ata do encontro, divulgada mais cedo nesta terça-feira, mostrou que a autarquia chegou até a considerar ajuste mais forte nos juros, surpreendendo participantes do mercado.
Atualmente, os juros básicos estão em 9,25% ao ano, 7,25 pontos percentuais acima da mínima histórica de 2% atingida durante a pandemia de Covid-19.
A mais recente pesquisa semanal Focus do BC mostra expectativa de alta de 5,02% do IPCA em 2022. Para 2023 e 2024, as estimativas são de avanço de 3,46% e 3,09%. Todas as projeções estão acima do centro da meta.
Desta forma, o BNP Paribas espera um Banco Central mais agressivo no combate à desancoragem das expectativas de inflação, prevendo que a taxa Selic chegue a 12% ao fim do atual ciclo de aperto monetário da autarquia.
Atualmente, os juros básicos estão em 9,25% ao ano, 7,25 pontos percentuais acima da mínima histórica de 2% atingida durante a pandemia de Covid-19.
Embora enxergue a necessidade de custos mais altos dos empréstimos em meio aos temores inflacionários, o BNP Paribas revisou para baixo suas estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano e no próximo, afirmando que a política monetária mais apertada deve custar ao Brasil o equivalente a crescimento de 1% em 2022.
Ainda assim, suas estimativas de expansão econômica de 4,8% neste ano e de 0,5% no próximo estão mais otimistas do que as projeções de algumas outras grandes instituições financeiras, já que algumas esperam contração da atividade em 2022.
Isso se deve ao "cenário global mais positivo, que ainda ajudará o crescimento do Brasil", afirmou Arruda.
CÂMBIO E FISCAL
Segundo Arruda, o BNP Paribas projeta taxa de câmbio de 5,60 reais por dólar ao fim do ano que vem, "mas, antes de chegar lá, poderia caminhar próxima a 5,80 e 5,90 no momento em que a política monetária norte-americana começar a se normalizar".
Há fortes expectativas no mercado de que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, começará a elevar os juros a partir do ano que vem, mais cedo do que o esperado há apenas alguns meses, o que é amplamente visto como benéfico para a moeda norte-americana.
Além disso, a aproximação da corrida eleitoral brasileira de 2022 provavelmente acirrada também pode prejudicar o desempenho do real. "Eleições polarizadas geram incertezas e incerteza gera prêmio", afirmou Arruda, acrescentando que isso pode significar que os ativos brasileiros continuarão aquém de patamares sugeridos pelos fundamentos econômicos.
Sobre o cenário fiscal --que foi importante responsável pela valorização do dólar ante o real neste ano-- Arruda afirmou que a recente promulgação de partes da PEC dos Precatórios, que altera a legislação do teto de gastos, "mostra para todo mundo que, ao longo do tempo, a gente pode observar isso acontecendo novamente", o que seria ruim do ponto de vista da credibilidade do país.
Mesmo assim, "dos cenários possíveis, a gente evitou um mais negativo, onde a gente poderia ver gastos ainda mais substanciais".
Havia temores nos mercados de que o governo poderia recorrer a medidas como o Orçamento de Guerra para conseguir viabilizar o pagamento do programa Auxílio Brasil de ajuda financeira para famílias vulneráveis.