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Copom corta Selic em 0,5 p.p a 3,75% ao ano em ambiente desaceleração e dólar alto

Publicado 18.03.2020, 17:13
© Reuters.
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Por Felipe Areia e Leandro Manzoni

Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu a ação de outros bancos centrais e reduziu a Selic em 0,5 ponto percentual, para 3,75% ao ano, em decisão unânime. O ETF de Brasil negociado nos EUA EWZ avança 3% no after market de NY.

Os diretores reforçaram a necessidade de manutenção das reformas estruturais e que vai usar seu arsenal de políticas para lidar com a crise:

"O Banco Central do Brasil ressalta que continuará fazendo uso de todo o seu arsenal de medidas de políticas monetária, cambial e de estabilidade financeira no enfrentamento da crise atual."

O consenso de mercado apontava para uma redução de 0,25 p.p. para 4,00%, enquanto parte do mercado acreditava em uma atitude mais agressiva, da ordem de 1 p.p.. O Copom disse no comunicado que vê um corte mais forte como contraproducente "se resultarem em aperto nas condições financeiras".

Apesar da escalada do dólar, que fechou a R$ 5,19, o Banco Central avalia que o balanço de risco é assimétrico, com viés deflacionário por causa da alta ociosidade da capacidade produtiva e deterioração das condições financeiras internacionais impulsionadas pelo surto de coronavírus ao redor do mundo.

Disse o BC no comunicado:

"No cenário externo, a pandemia causada pelo novo coronavírus está provocando uma desaceleração significativa do crescimento global, queda nos preços das commodities e aumento da volatilidade nos preços de ativos financeiros. Nesse contexto, apesar da provisão adicional de estímulo monetário pelas principais economias, o ambiente para as economias emergentes tornou-se desafiador;"

Para o Copom, o corte não deve ameaçar a inflação, que segue em nível confortável: "O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária".

Ambiente econômico e financeiro justifica corte

A piora da perspectiva de crescimento econômico global derrubou as projeções para o Brasil, com o Goldman Sachs acreditando em queda do PIB de 0,9% neste ano. Credit Suisse reviu para 0%, enquanto o UBS vê +0,5%.

Além disso, as ações coordenadas por vários Bancos Centrais também embasam a atuação preventiva da autoridade monetária brasileira. Neste domingo, o Federal Reserve cortou a taxa de juros de referência para próximo de 0% e anunciou programa de US$ 700 bilhões em compra de ativos, medidas para manter o mercado financeiro em funcionamento e prevenir os desdobramentos negativos do coronavírus na economia dos EUA.

A flexibilização monetária do Fed foi seguida por outros bancos centrais. O Banco do Japão disse que dobraria sua meta de compra de fundos negociados em bolsa (ETFs, na sigla em inglês) para o equivalente a US$ 112 bilhões.

O Banco da Reserva da Nova Zelândia reduziu sua taxa-chave em 75 pontos-base para 0,25% e disse que não a aumentaria por pelo menos um ano. E o Banco da Coreia do Sul, que já havia resistido a cortes nas taxas, apesar de o país ter sofrido um surto grave de coronavírus, reduziu sua taxa-chave em 50 pontos-base para 0,75%.

Na Europa, Robert Holzmann, um dos membros mais hawkish do conselho de governo do Banco Central Europeu, sinalizou a possibilidade de uma intervenção mais direta para estabilizar os mercados de títulos da zona do euro. "Se houver necessidade de intervir na área de títulos do governo, serão tomadas medidas", disse Holzmann.

Outras medidas de injeção de liquidez

O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou nesta semana, em reunião extraordinária, medidas para facilitar a renegociação de dívidas, dispensando os bancos de aumentarem o provisionamento no caso de repatriação de operações de crédito realizadas nos próximos seis meses.

Em outra decisão, o governo ampliou a folha de capital do sistema financeiro nacional em R$ 56 bilhões, permitindo que a capacidade de crédito seja elevada em R$ 637 bilhões.

Veja abaixo o comunicado completo do BC:

Copom reduz a taxa Selic para 3,75% a.a.

Em sua 229ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 3,75% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

  • No cenário externo, a pandemia causada pelo novo coronavírus está provocando uma desaceleração significativa do crescimento global, queda nos preços das commodities e aumento da volatilidade nos preços de ativos financeiros. Nesse contexto, apesar da provisão adicional de estímulo monetário pelas principais economias, o ambiente para as economias emergentes tornou-se desafiador;
  • Dados de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom vinham em linha com o processo de recuperação gradual da economia brasileira. Entretanto, esses dados ainda não refletem os impactos da pandemia de COVID-19 na economia brasileira;
  • O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária;
  • As expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,1%, 3,65% e 3,5%, respectivamente;
  • No cenário híbrido, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante a R$4,75/US$*, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,0% para 2020 e 3,6% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 3,75% a.a. e se eleva até 5,25% a.a. em 2021; e
  • No cenário com taxa de juros constante a 4,25% a.a. e taxa de câmbio constante a R$4,75/US$*, as projeções situam-se em torno de 3,0% para 2020 e 3,6% para 2021.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. Esse risco se intensifica caso um agravamento da pandemia provoque aumento da incerteza e redução da demanda com maior magnitude ou duração do que o estimado.

Por outro lado, o aumento da potência da política monetária, a deterioração do cenário externo ou frustrações em relação à continuidade das reformas podem elevar os prêmios de risco e gerar uma trajetória da inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 3,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário 2020 e, principalmente, de 2021.

O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Copom enfatiza que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas têm o potencial de elevar a taxa de juros estrutural da economia. Nessa situação, relaxamentos monetários adicionais podem tornar-se contraproducentes se resultarem em aperto nas condições financeiras.

O Copom entende que a atual conjuntura prescreve cautela na condução da política monetária, e neste momento vê como adequada a manutenção da taxa Selic em seu novo patamar. No entanto, o Comitê reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e novas informações sobre a conjuntura econômica serão essenciais para definir seus próximos passos.

O Banco Central do Brasil ressalta que continuará fazendo uso de todo o seu arsenal de medidas de políticas monetária, cambial e de estabilidade financeira no enfrentamento da crise atual.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fábio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.

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