Investing.com – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia nesta terça-feira, 17, a reunião de dois dias para definir o patamar da taxa de juros brasileira, a Selic, com anúncio previsto para a noite de quarta, 18. Com uma economia forte, expectativas desancoradas e dólar elevado, a expectativa consensual é de que o colegiado deve elevar a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, saindo de 10,5% para 10,75%.
Em entrevista ao Investing.com Brasil, o ex-diretor do BC, Tony Volpon, concorda que esta tende a ser a decisão, mas avalia que, para ancorar as expectativas de forma mais eficiente, o aumento deveria ser um pouco maior, de meio ponto.
“Eu acredito que eles deveriam fazer passos de 0,50 p.p e acabar em 12%, mas talvez eles decidam fazer uma coisa mais devagar mesmo. Tudo acaba sendo determinado pela pressão inflacionária que eles estão tentando controlar. Então, eu acho que uma Selic de 12% está de bom tamanho, para fazer o ajuste que eles deveriam fazer”.
A percepção de Volpon é de que os diretores farão um ciclo de alta com um certo receio, e de que a comunicação do colegiado pode ser "dovish", ou seja, com um discurso visto como mais leniente com a inflação – o que pode afetar os ativos de forma negativa.
A elevação tende a ser gradual, conforme indicado na comunicação mais recente do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, espera Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha. Uma inflação corrente bem comportada, além de um dólar alto, mas sem picos de estresse, não exigiria aumentos mais elevados, apontou em entrevista.
O cenário externo favorável é outro fator positivo citado pela economista para que a Selic não precise subir de forma mais agressiva, tendo em vista a expectativa de cortes nos juros americanos. “Até o final do ano, a gente também vai ter um pouco mais de visibilidade de como vai estar o quadro econômico nos Estados Unidos, o desfecho da eleição presidencial, um pouco mais de aprofundamento para prever como será a trajetória da taxa de juros nos Estados Unidos”.
O economista André Perfeito também enxerga um aumento de 0,25 ponto percentual e destaca que o crescimento pujante da economia brasileira está entre os motivos para a retomada do ciclo de alta. O país estaria enfrentando um “bom problema”, em sua visão, com um mercado de trabalho resiliente, e o colegiado tende a elevar a Selic até ancorar as expectativas de longo prazo. No entanto, considera que o mercado vem errando muito nas suas projeções, o que levaria a um maior conservadorismo do que seria razoável.
“O meu receio é de que os mesmos economistas que estão agora falando que tem que subir vão ser os economistas que, uma vez iniciada a alta aqui e o corte lá fora, vão falar que talvez tenha sido demais esse processo”, conclui o economista em entrevista.