Andrés Mourenza.
Nicósia, 26 mar (EFE).- Com os bancos fechados pelo 11º dia consecutivo e ainda se recuperando do baque do acordo com o Eurogrupo, os cipriotas começam a questionar agora se a reestruturação dos bancos e dos depósitos permitirá que suas empresas sobrevivam.
Muitas companhias do país possuem contas bancárias nas duas principais entidades financeiras do país, o Banco do Chipre e o Banco Popular (Laiki), cujos depósitos acima de 100 mil euros perderão 40% de seu valor no primeiro caso e provavelmente a totalidade no segundo.
Em qualquer caso, os grandes depósitos de ambas entidades financeiras ficarão congelados por um período indeterminado até que o Banco do Chipre finalize sua reestruturação e o Popular sua liquidação.
"Cem mil euros pode ser uma quantia grande para uma só pessoa, mas para uma empresa é normal ter 100 mil, 200 mil ou 300 mil euros em um banco, para poder tramitar seu negócio", se queixou Nikos Omiros, proprietário de um pequeno supermercado.
O acordo assinado pelo governo cipriota e o Eurogrupo "destruirá" o setor financeiro do Chipre e "afundará o país na recessão", considerou o Prêmio Nobel de Economia 2010, Christopher A. Pissaridis, em entrevista à Agência Efe.
As empresas receberão um severo golpe já que não só seus potenciais consumidores perderam muito dinheiro - por exemplo, o setor imobiliário ficará parado - mas as próprias companhias verão suas contas congeladas, acrescentou o economista.
É a mesma visão pessimista de Vajira Lalit, original do Sri Lanka e que vive 12 anos no Chipre, onde administra uma pequena empresa de envios de dinheiro.
"Vamos perder 75 mil euros. Isso é o que calculo, porque ninguém nos informou nada. Provavelmente teremos que fechar", lamentou.
Nesta terça, em carta ao Ministério do Trabalho, o secretário-geral da associação de pequenas e médias empresas POVEK, Stefanos Kursaris, pediu que o governo tome uma série de medidas para evitar a quebra de várias empresas.
Esta organização considera que o que está ocorrendo no Chipre mudará completamente a cara do mundo empresarial cipriota e teme o fechamento de milhares de companhias.
No entanto, a remissão de dívida à qual serão submetidos os depósitos também afeta outras instituições, como as educativas. A Universidade do Chipre tinha fundos de 20 milhões de euros depositados no Laiki e outros 10 milhões no Banco do Chipre para seu funcionamento.
"Os depósitos no Laiki ficarão congelados durante cinco anos e depois calcula-se que será possível recuperar apenas 20%, enquanto ainda está sendo negociado que ocorrerá com os do Banco do Chipre", explicou Pissaridis, que acrescentou que parte desse dinheiro era para projetos de pesquisa financiados pela própria União Europeia.
Hoje também aconteceu a primeira grande manifestação contra a "troika" (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) desde o início da crise bancária no Chipre e foi protagonizada pelos estudantes, que percorreram as ruas de Nicósia exigindo que seu futuro não fosse hipotecado.
"Temos medo que nossas famílias não tenham dinheiro para bancar nossos estudos universitários", declarou Marios, um dos manifestantes.
Irini e Kristal, de 19 anos, disseram à Efe que, "por culpa da troika e do governo, que aceitou suas exigências", temem por seu futuro, já que não sabem se, quando terminem seus estudos, poderão conseguir um trabalho ou se terão dinheiro depois da remissão de dívida parcial de depósitos.
Por outro lado, o governador do Banco Central do Chipre, Panikos Dimitriadis, disse nesta terça-feira à imprensa que "estão sendo feitos esforços enormes para que os bancos abram na próxima quinta-feira".
Dimitriadis, que esteve estes dias no centro das críticas por sua gestão da crise, ressaltou que as restrições no movimento de capitais serão temporários, apesar de não ter especificado que tipo de limitações haverá.
Como se fosse pouco, a anunciada reestruturação do sistema bancário cipriota fez hoje com que a agência de qualificação Fitch pusesse em situação de quebra o Banco Popular e de quebra limitada o Banco do Chipre, além de manter a perspectiva negativa para o terceiro maior banco cipriota, o Banco Heleno (Hellenic Bank). EFE
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