Pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), divulgada hoje (29), mostra que 46% dos consumidores inadimplentes no país acreditam não ter condições de sanar as dívidas pelos próximos três meses. O percentual se manteve relativamente estável em relação ao levantamento que traçou um perfil dos devedores brasileiros em 2017, de 48%. Nessa pesquisa, 49% dos inadimplentes devem regularizar o débito no período, sendo que 36% planejam quitar todo o valor e 13% apenas parte dele.
O presidente do SPC, Roque Pellizzaro Junior, avalia que os dados reforçam a percepção de que as pessoas seguem em dificuldades financeiras mesmo com “sinais tímidos de melhora da economia”. Ele aponta que, embora a inflação esteja controlada e a taxa básica de juros esteja no menor nível histórico, o ritmo atual da economia demorará mais para produzir efeitos benéficos na vida da maioria das pessoas. De acordo com a última pesquisa de inadimplentes CNDL/SPC, divulgada neste mês, 63,4 milhões de brasileiros estão negativados, ou seja, 41% da população adulta.
O estudo sobre o perfil dos devedores mostra também que o valor médio da soma das pendências é de R$ 2.615,98. Quando considerada apenas a parcela masculina dos entrevistados, o valor é maior: R$ 2.934,34. As classes A e B também têm débitos de valores mais elevados, R$ 3.718,48 na média. Entre os que tem renda familiar de até cinco salários mínimos, a dívida média é de R$ 2.530,96. A pesquisa revela também que 14% dos inadimplentes não sabem quanto devem.
De modo geral, o quadro dos inadimplentes é composto por 58% de mulheres e 42% de homens. A média de idade é 36 anos e a maioria (59%) tem segundo grau completo ou incompleto. Dos consumidores com contas em atraso, 93% têm renda de até cinco salários mínimos e divide a casa, em média, com mais três pessoas. A maioria dessas pessoas reside nas regiões Sudeste (46%) e Nordeste (24%).
Foram entrevistados 609 consumidores com contas em atraso há mais de 90 dias em todas as capitais do país, de ambos os gêneros, acima de 18 anos e de todas as classes sociais. A margem de erro é de 3,97 pontos percentuais e a margem de confiança de 95%.
Motivos
A renda insuficiente (36%) e o desemprego (27%) foram os principais motivos apontados pelos consumidores para não pagar as dívidas. Para 15% dos inadimplentes, a razão de não sanar os débitos é que o saldo devedor é superior aos ganhos mensais, além disso, 9% disseram não conseguir abrir mão de gastos com os quais estão acostumados.
Entre os que disseram querer sair da lista de devedores, a renegociação com o credor é a principal estratégia. Quatro em cada dez entrevistados pretendem conseguir o parcelamento da dívida, 19% vão fazer cortes nos gastos e 18% farão bicos para gerar renda extra. As áreas citadas como passíveis de corte são: lazer (34%), aquisição de roupas e calçados (32%), idas ao salão de beleza (30%), alimentação fora de casa (29%) e compra de produtos de beleza (25%).
O tipo de dívida mais frequente em atraso é aquela contraída com amigos ou parente, com 38% das menções. Em seguida, estão as faturas do cartão de crédito (20%), crediários no comércio (20%) e o cheque especial, que passou de 8% em 2017 para 20% neste ano. Em média, as contas atrasadas há mais tempo são o empréstimo pessoal (34 meses), empréstimo consignado (27 meses) e o cheque especial (24 meses).
A pesquisa mostra ainda que, na hora de decidir quais contas serão pagas, o consumidor opta pelos compromissos considerados essenciais, como plano de saúde (89%), condomínio (86%), aluguel (82%), despesa de água e luz (79%) e TV por assinatura e internet (75%). A possibilidade de corte do serviço também e indicado como um motivo para honrar com pontualidade o débito.
Reincidentes
A compra por impulso e a falta de planejamento também são fatores que contribuem para a inadimplência, de acordo com o estudo. Duas em cada dez pessoas com contas em atraso fizeram compras nos últimos três meses mesmo sabendo que seria difícil ou não que conseguiriam pagá-las. Além disso, quase um terço das pessoas (32%) que devem já estiveram negativadas duas vezes ou mais nos últimos cinco anos.