Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta quinta-feira que o Brasil está bem posicionado para resistir a choques em sua economia e repetiu a mensagem de que os juros básicos só subirão se houver piora no balanço de riscos e nas expectativas de inflação.
Em apontamentos no âmbito de sua participação em encontro do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Bali, na Indonésia, Ilan destacou que o quadro global permanece desafiador para economias emergentes, com riscos associados à normalização monetária em economias avançadas e incertezas sobre o comércio global.
Mas ponderou que o país está preparado para lidar com eventuais choques, citando um robusto balanço de pagamentos, regime de câmbio flutuante, nível adequado de reservas, inflação em níveis baixos e expectativas de inflação bem ancoradas.
Ilan também chamou atenção para o fato de a fatia dos investidores estrangeiros na dívida mobiliária interna responder por cerca de 12 por cento do total, abaixo da média de 22,7 por cento de economias emergentes no G20, segundo o FMI.
Segundo Ilan, este seria outro colchão da economia brasileira, somando-se às reservas internacionais, que no caso brasileiro excedem 380 bilhões de dólares, cerca de 20 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
Em relação à política monetária, o presidente do BC reiterou que os juros básicos só subirão e de modo gradual se houver piora no quadro que segue avaliando.
"As condições econômicas ainda prescrevem a adoção de uma política monetária estimulativa, com taxa de juros abaixo do nível estrutural", disse.
"O estímulo começará a ser removido gradualmente se o cenário para a inflação no horizonte relevante para condução da política monetária e/ou o balanço de riscos piorarem", completou.
A mensagem é a mesma desde meados de setembro, quando o BC manteve a Selic na mínima histórica de 6,5 por cento, tendo como pano de fundo um balanço de riscos assimétrico, com riscos altistas para a inflação que haviam se elevado.
Reagindo às incertezas eleitorais, o dólar vinha então mostrando forte alta, chegando a flertar com o patamar de 4,20 reais. De lá para cá, contudo, a moeda norte-americana caiu, embalada pelas expectativas do mercado quanto à vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na corrida ao Palácio do Planalto.
Após outras candidaturas de centro e de direita não ganharem tração na disputa, o capitão da reserva passou a ser visto como o candidato reformista, com uma agenda de austeridade fiscal, privatizações e reformas. Nas últimas quatro semanas, o dólar acumula queda de 9,31 por cento, fechando esta sessão a 3,7788 reais na venda.
Em seus apontamentos, Ilan afirmou que o "decisivo passo de reformar o sistema previdenciário ainda precisa ser tomado". Também afirmou que o cenário financeiro mais adverso no mundo reforça a necessidade de o país prosseguir no caminho de reformas e ajustes para garantir sustentabilidade fiscal e maior crescimento.
Sobre a inflação, Ilan avaliou que o avanço de preços na economia segue bem comportado e que as expectativas de inflação continuam próximas às metas estabelecidas pelo governo.
De acordo com pesquisa Focus mais recente, feita pelo BC junto a uma centena de economistas, as projeções seguem sendo de que a Selic terminará este ano a 6,5 por cento e 2019 a 8 por cento.