Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A economia brasileira fechou 2018 com expansão pela segunda vez seguida, mas bem abaixo do esperado inicialmente e mostrando que o ritmo desacelerou no final do ano, pressionada principalmente pelo recuo dos investimentos no quarto trimestre, o que ressalta a dificuldade de recuperação.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou expansão de 0,1 por cento no quarto trimestre do ano passado sobre os três meses anteriores, mostrou nesta quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado traz desaceleração em relação à taxa de crescimento de 0,5 por cento no terceiro trimestre na mesma base de comparação, em dado revisado pelo IBGE de 0,8 por cento divulgado antes.
Na comparação com o quarto trimestre de 2017, o crescimento foi de 1,1 por cento. Com isso, a atividade econômica brasileira fechou 2018 com expansão de 1,1 por cento sobre o ano anterior, repetindo a taxa vista em 2017, depois de contrações de 3,3 e 3,5 por cento, respectivamente em 2016 e 2015.
O ano de 2018 foi marcado por uma atividade econômica em ritmo moderado, apesar da inflação e dos juros baixos, com o desemprego ainda elevado.
Apesar do segundo ano de crescimento, o resultado ficou bem abaixo da decolagem da economia que era esperada no início de 2018-- pesquisa Focus do Banco Central mostra que o mercado chegou a estimar uma taxa de 2,9 por cento em março.
A greve dos caminhoneiros em maio e as incertezas em torno das eleições presidenciais de outubro afetaram diretamente a economia ao conterem os investimentos e prejudicarem a confiança, mesmo com a demanda melhorando.
"O crescimento de 2017 e 2018 foi igual, mas com composição e características diferentes. O ano de 2018 foi marcado por choque de oferta provocada pelos caminhoneiros, pela crise da Argentina que comprou menos nossos produtos e pela incerteza eleitoral", explicou a economista do IBGE Rebeca Palis, lembrando que os dois resultados positivos não compensaram nem recuperaram a perda de quase 7 por cento em 2015 e 2016.
A mediana das expectativas em pesquisa da Reuters era de expansão de 0,2 por cento do PIB no quarto trimestre de 2018 em relação ao terceiro e de 1,3 por cento sobre um ano antes.
INVESTIMENTOS
Os dados do IBGE mostraram que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimentos, recuou 2,5 por cento no quarto trimestre na comparação com o terceiro.
O período também foi afetado pelo recuo de 6,6 por cento nas Importações de Bens e Serviços. Ainda do lado das despesas, o consumo das famílias cresceu 0,4 por cento, enquanto do governo teve queda de 0,3 por cento.
Na parte da produção, a Indústria foi a única atividade a registrar contração no quarto trimestre, de 0,3 por cento, enquanto Serviços e Agropecuária cresceram 0,2 por cento.
No acumulado do ano, entretanto, a FBCF teve alta de 4,1 por cento e o Consumo das famílias aumentou 1,9 por cento, com os Serviços crescendo 1,3 por cento e a Indústria registrando avanço de 0,6 por cento.
"O que compensou em 2018 foi o setor de serviços, que tem peso de 70 por cento na economia. A indústria também deu contribuição positiva depois de quatro anos em queda", completou Palis.
A economista do IBGE ainda destacou o crescimento do Consumo das famílias ao longo do ano passado, uma vez que esse componente tem peso de 60 por cento na economia. "É um peso gigante e ditou o ritmo da economia", disse.
REFORMAS
Com o foco se voltando para o avanço de reformas, principalmente a da Previdência, a expectativa é de aceleração econômica neste ano. A pesquisa Focus do Banco Central, que ouve semanalmente uma centena de economistas, mostra que é esperado um crescimento de 2,48 por cento do PIB em 2019, indo a 2,65 por cento em 2020.
A esperada melhora das condições financeiras e do mercado de crédito, bem como uma contínua recuperação do mercado do trabalho, dependem, entretanto, da manutenção da agenda de reformas e ajustes da economia pelo governo.
Para o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, a economia deve acelerar a 2 por cento em 2019, diante da demanda doméstica mais firme, particularmente os gastos com investimentos.
"A aceleração prevista do crescimento deve ser sustentada por um impulso mais firme do crédito, condições monetárias e financeiras mais expansionistas e melhora gradual do mercado de trabalho", disse ele em nota, alertando entretanto que os ajustes fiscais devem estar no centro da agenda do governo para este ano.