Marcel Gascón Barberá
Caracas, 1 jan (EFE).- A Venezuela começa 2018 imersa na hiperinflação e em meio à preocupação perante os efeitos que terá o novo aumento salarial anunciado no domingo pelo presidente Nicolás Maduro, que só foi celebrado nos círculos governistas e aumentará ainda mais a inflação, segundo muitos economistas.
"Maduro simplesmente continua com sua política de seguir tentando apagar um incêndio hiperinflacionário que ele gerou na Venezuela, com uma galão de gasolina", escreveu no Twitter o economista Luis Oliveros.
Em seu discurso de fim de ano, Maduro anunciou no domingo um aumento do salário mínimo e dos salários dos funcionários de 40%, o que somado ao aumento do bônus de alimentação, supõe um aumento de mais de 74%.
Este novo aumento deixa o salário mínimo, no câmbio oficial do governo, em US$ 238, porém, em pouco mais de US$ 7 se for levado em consideração o câmbio paralelo, o mais usado no país.
Em 2017, Maduro subiu até em 7 ocasiões os salários mínimos e dos trabalhadores do Estado, em uma tentativa de fazer frente ao aumento dos preços que disparam dia a dia enquanto o bolívar desaba frente ao dólar no mercado livre.
Segundo cálculos preliminares da firma de análise financeira Ecoanalítica, a inflação foi de 81% na Venezuela só no mês de novembro. Segundo estes cálculos, o país caribenho fechou 2017 com uma inflação acumulada de mais de 2.700%, o que torna o país na única economia do mundo com uma inflação de quatro cifras.
Um relatório do Centro de Documentação e Análise para os Trabalhadores (CENDA), que faz um acompanhamento mensal do custo da vida, revelava que em novembro um lar com dois salários mínimos apenas podia comprar a cesta básica de alimentos de uma semana.
Perante esta situação, milhões de venezuelanos dependem do esquema governamental de distribuição de alimentos subsidiados. Os atrasos na entrega desta comida provocou numerosos protestos espontâneos nas zonas populares no Natal.
A Ecoanalítica e outras companhias do mesmo ramo na Venezuela atribuem a inflação ao enorme aumento da base monetária que - com medidas como o aumento de salários por decreto - fez o Banco Central na Venezuela.
Esta explosão da massa monetária em circulação, somada à redução dos bens no mercado provocada pela queda da produção, causa um desequilíbrio entre a abundância de dinheiro nominal e a escassez de produtos, que exerce pressão sobre os preços e destrói o poder de compra dos cidadãos.
O Governo chavista, por sua vez, fala de "inflação induzida", e culpa esta situação por uma "guerra econômica" com os Estados Unidos, com a oposição e com comerciantes "especuladores" dentro do país, ao mesmo tempo que aposta por continuar subindo os salários para fazer frente a uma inflação que até agora continua crescendo mais rápido.
"Quem agride o povo? Quem impõe um mecanismo totalmente criminal, de fixação de preços inflados, preços criminosos? O Governo bolivariano, ou os capitalistas, a oligarquia?", perguntou de forma retórica Maduro em seu discurso de fim de ano.