Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O estoque total de crédito no Brasil subiu 1,1% em novembro sobre outubro, a 3,410 trilhões de reais, no quarto mês consecutivo de alta, embalado por financiamentos tomados por empresas em mês de promoções da Black Friday.
Com isso, o saldo geral de financiamentos no país passou a 47,3% do Produto Interno Bruto (PIB), divulgou o Banco Central nesta sexta-feira.
Contrariando tendência verificada ao longo do ano, em novembro a expansão do crédito foi mais forte na comparação com outubro entre empresas (+1,4%) do que entre pessoas físicas (+0,9%).
Segundo o chefe adjunto do Departamento de Estatísticas do BC, Renato Baldini, isso ocorreu por conta da alta do dólar frente ao real, que aumentou o estoque de crédito em algumas modalidades.
"Hoje o impacto (da depreciação cambial) é percebido principalmente no crédito livre e no crédito livre a pessoas jurídicas", afirmou ele, citando as modalidades de repasses externos e financiamento a exportações, com contratos vinculados à variação cambial.
Em novembro, o dólar subiu cerca de 5,5%, disse Baldini. No mês, houve forte pressão no câmbio diante da frustração com perspectivas de ingressos de recursos no país com o leilão de petróleo da cessão onerosa.
Desconsiderado o efeito cambial, o estoque geral de crédito no país teria subido 0,9% em novembro ante outubro, ao invés de 1,1%, pontuou o técnico do BC.
Ele afirmou que a Black Friday também teve efeito sobre as compras à vista com cartão de crédito pelas pessoas físicas -- principal modalidade sensibilizada pela data. Mas a elevação ante outubro foi de 5 bilhões de reais, metade do observado em novembro do ano passado.
No acumulado de janeiro a novembro, o estoque geral de financiamentos cresceu 4,7%, com retração de 1,7% para empresas e alta de 9,9% para famílias.
No acumulado em 12 meses, o aumento do crédito no Brasil foi de 6,3%. Para 2019, o BC espera que vá haver um crescimento de 6,9% no estoque total de crédito, conforme estimativa divulgada mais cedo neste mês, mais alta que o percentual de 5,7% projetado em setembro.
Em relação ao custo dos financiamentos no país, os juros médios tiveram alta em novembro, a 36,2% ao ano, contra 35,9% no mês anterior, dado que considera apenas o segmento de recursos livres, no qual as taxas são definidas livremente pelas instituições financeiras.
O spread, que mede a diferença entre a taxa de captação dos bancos e a cobrada a seus clientes, também subiu no mesmo período, a 30,7 pontos percentuais, contra 30,3 pontos em outubro.
Houve encarecimento nas condições de crédito apesar de a inadimplência no mesmo segmento ter caído a 3,8%, contra 3,9% no mês anterior.
Olhando para as modalidades mais caras, os juros do cheque especial subiram em novembro a 306,6% ao ano, contra 305,9% em outubro.
No fim de novembro, o governo estabeleceu um limite para os juros do produto de 8% ao mês -- cerca de 150% ao ano, metade do que é praticado hoje.
Em compensação, também passou a permitir que as instituições financeiras cobrem tarifa pela disponibilização de limite de cheque especial, sendo vedada a cobrança para limites de crédito de até 500 reais.
A limitação dos juros trazida em regulação entrará em vigor em 6 de janeiro de 2020. Para os contratos em vigor, a incidência de tarifa só será permitida a partir de 1º de junho de 2020, caso não venham a ser repactuados antes.